Rio de Janeiro A reunião do G-20 começou ontem com claros gestos em favor da aliança Brasil e Índia, os líderes deste grupo de países em desenvolvimento concentrado na obtenção de um resultado ambicioso na negociação agrícola da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da coesão dentro do próprio agrupamento. Minutos antes da abertura do encontro, a recente desavença germinada entre os dois países foi dissolvida pelo ministro de Comércio da Índia, Kamal Nath, que desautorizou declarações de seu subordinado, Jairam Ramesh.
Em seu discurso, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, fez questão de tocar no ponto que mais opõe Índia e Brasil nas discussões sobre liberalização agrícola e assinalou uma alternativa de acerto. "Claro que há unidade no G-20. Todos nós viemos de várias partes do mundo para esta reunião. Nós demonstramos a nossa unidade e insistimos na manutenção da dimensão do desenvolvimento desta Rodada", afirmou Nath, pouco antes da abertura do encontro. "Creio que houve um equívoco. Brasil e Índia são aliados, há grande sinergia entre os dois países e forte complementaridade entre suas economias. Mas não há competição", acrescentou, ao ser questionado sobre as declarações de Ramesh.
Expectativa
O ministro Celso Amorim tem mais do que boas perspectivas para a retomada da Rodada Doha da OMC. Ele acredita que os Estados Unidos apresentarão uma proposta para reduzir os subsídios concedidos a seus agricultores para um nível bem menor que US$ 20 bilhões depois das eleições parlamentares de novembro. Para Amorim, esse movimento levará a União Européia a abandonar a ladainha de que já cedeu o máximo na abertura de seu mercado agrícola.
"Tenho certeza de que, a cada momento que passa, a rodada está mais próxima do resultado ideal", afirmou Amorim ontem, na véspera de comandar a primeira reunião de ministros do G-20 e de outros cinco agrupamentos de economias em desenvolvimento da OMC. "Podemos terminá-la em um horizonte previsível."
Hoje pela manhã, passados 47 dias da decisão de suspender a Rodada Doha, causada pela completa impossibilidade de acerto no capítulo agrícola, o G-20 e os outros grupos farão a primeira reunião para discutir como sair dessa enrascada. Participam do debate a representante dos Estados Unidos para o Comércio, Susan Schwab, o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, e o ministro de Agricultura do Japão, Shoichi Nakagawa.