As pessoas mais ricas do planeta perderam US$ 511bilhões em 2018. Curiosamente, o empobrecimento veio após um primeiro semestre de lucros recordes, obliterado por uma sucessão de liquidações e quedas bruscas no valor acionário das companhias.
A tensão no comércio global e a preocupação sobre uma possível recessão nos Estados Unidos arrastaram os mercados para baixo no fim de ano, encolhendo para US$ 4,7 trilhões o valor da riqueza combinada dos 500 maiores bilionários do mundo. Desde a criação da lista, em 2012, foi apenas a segunda vez que, no balanço anual, os mais ricos viram suas fortunas diminuir. A lista é atualizada diariamente. O resultado contrasta fortemente com o início deste ano, quando investimentos agressivos ajudaram a turbinar a fortuna dos 500 mais ricos para um recorde de US$ 5,6 trilhões.
“Neste sprint final, a ansiedade dos investidores atingiu níveis altíssimos”, diz Katie Nixon, diretora de investimentos da Northern Trust Wealth Management. “Não esperamos que haja recessão, mas estamos atentos para os riscos de diminuição do crescimento global”. Até mesmo Jeff Bezos, que registrou o maior lucro de 2018, não foi poupado pelo ambiente volátil. Sua fortuna atingiu um pico de US 168 bilhões em setembro, mas despencou US$ 53 bilhões na sequência – mais do que o valor da Delta Airlines ou da Ford – fechando o ano no patamar de US$ 115 bilhões.
O fundador da Amazon.com teve um ano melhor do que Mark Zuckerberg, que foi quem mais perdeu desde janeiro, ficando US$ 23 bilhões “mais pobre” devido às seguidas crises no Facebook. Ao todo, os 173 bilionários americanos da lista – o maior grupo de mesma nacionalidade – perderam 5,9% de suas fortunas, que hoje totalizam US$ 1,9 trilhão.
Até mesmo a fabulosa máquina asiática de geração de riquezas engasgou e os 128 bilionários da região perderam US$ 144 bilhões em 2018. Os três maiores perdedores vieram da China, liderados por Wang Jianlin, magnata do Wanda Group cuja fortuna encolheu US$ 11,1 bilhões.
Apesar da turbulência, a Ásia continuou a atrair novos membros ao clube bilionário. O índex Bloomberg registrou 39 novos entrantes em 2018, apesar de alguns terem permanecido pouquíssimo tempo na lista. Cerca de 40% deles já havia perdido seu status bilionário no dia 7 de dezembro.
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O Oriente Médio teve um ano ainda mais conturbado. Ainda que muitos dos bilionários presos pela ofensiva anticorrupção do príncipe Mohammed bin Salman já tenham sido soltos, a dúvida e o medo quanto aos métodos de força utilizados pela realeza causaram arrepios na economia saudita.
A pessoa mais rica da Arábia Saudita, o príncipe Alwaleed, libertado em março depois de passar 83 dias na prisão, perdeu US$ 3,4 bilhões. O valor líquido de sua fortuna diminuiu 60% desde que atingiu o ponto mais alto, em 2014. Um dos bilionários sauditas ainda preso, Mohammed Al Amoudi, conseguiu enriquecer ainda mais durante o período de cárcere, na medida em que aumentou o valor de seus investimentos nos setores imobiliário e de energia na Suécia. O governo saudita confirmou que Al Amoudi é acusado formalmente por corrupção e suborno e aguarda julgamento.
Enquanto isso, os mais ricos da África viram suas fortunas diminuírem 14%, em meio à turbulência que assola os mercados emergentes.
Do fundador da Zara, Amancio Ortega, ao ex-primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi, a maior parte dos bilionários europeus viram suas fortunas encolher. A família alemã Schaeffler, que tem o controle acionário da fábrica de autopeças Continental AG, acumulou as maiores perdas em função dos custos adicionais e da deterioração do ambiente de negócios na Europa e na Ásia. George Schaeffler e a mãe dele, Maria-Elisabeth Schaeffler-Thumann, ficaram US$ 17 bilhões mais pobres do que no início de 2018. Esse valor, isoladamente, já os colocaria entre os 100 maiores bilionários do mundo.
O mexicano Carlos Slim, acionista majoritário da maior empresa de telefonia móvel da América Latina, também sofreu perdas significativas. Aquele que já foi o homem mais rico do mundo hoje está na sexta posição, com capital acumulado de US$ 54 bilhões. Já o fundador da 3G Capital, Jorge Paulo Lemann, viu o encolhimento de sua fortuna se destacar entre os bilionários sul-americanos, perdendo US$ 9,8 bilhões. Mesmo com esse recuo, ele permanece como homem mais rico do Brasil.
A fortuna dos russos, em média, teve um desempenho melhor. A volatilidade causada pelo colapso nos preços do petróleo, pelo acirramento das tensões com a Ucrânia e pelas sanções internacionais foi parcialmente contornada. O valor combinado da fortuna dos 25 maiores bilionários russos recuou ligeiramente, fechando o ano na cifra de US$ 255 bilhões.
Ainda assim, 16 dos 25 bilionários russos na lista da Bloomberg viram seus cofres mais magros em 2018. O magnata do alumínio Oleg Deripaska, que continua sob efeito das sanções americanas, foi quem mais perdeu – US$ 5,7 bilhões – e ficou de fora da lista dos 500 maiores bilionários do planeta.
Ao contrário, os magnatas do setor energético Leonid Mikhelson, Gennady Timchenko e Vagit Alekperov acrescentaram US$ 9 bilhões às suas fortunas. Timchenko, sob sanções desde 2014, ficou 27% mais rico graças à valorização de 40% de suas ações na empresa de gás natural Novatek.
As fortunas do setor tecnológico – que tiveram o melhor desempenho em 2017, com valorização adicional de US$ 262 bilhões – desta vez encolheram US$ 55 bilhões, apesar dos ganhos de Jeff Bezos. Todos os outros setores recuaram, incluindo perdas de US$ 75 bilhões dos magnatas do varejo e de US$ 79 bilhões do setor da indústria.
O número de mulheres ganhou mais um nome na lista, chegando a 66, com a inclusão de Denise Coates, CEO e fundadora do aplicativo de apostas online BET365. No ranking pela primeira vez, Coates recebeu salários de US$ 282 milhões no ano passado, um dos mais altos já revelados no mundo empresarial, após a companhia registrar lucros recordes.
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