O governador Beto Richa suspendeu ontem o reajuste anual da conta de luz, que entraria em vigor no início da semana que vem. Na segunda-feira, ele vai se reunir com a diretoria da Copel para definir se haverá ou não algum aumento.
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Com base na variação de seus custos ao longo dos últimos 12 meses, a Copel havia solicitado à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) um reajuste de 12,1% neste ano. Ganhou até mais. A agência reguladora concedeu um aumento médio de 14,61% no caso das residências, a alta seria de 13,44%.
A suspensão do reajuste remete a uma prática do ex-governador Roberto Requião, que em mais de uma ocasião impediu a Copel de aplicar aumentos autorizados pela Aneel. Por limitarem os lucros, os "congelamentos" desagradavam acionistas e derrubavam as ações da estatal.
À Gazeta do Povo, a Copel chegou a confirmar que aplicaria o aumento na íntegra. Mas, no fim da tarde, Richa avisou que cobraria explicações da diretoria da estatal e que o aumento estava suspenso. As ações da empresa encerraram o dia em queda de 2,99%, mas aparentemente não chegaram a refletir a decisão do governador.
"Muita gente nem ficou sabendo. Provavelmente o mercado vai repercutir isso amanhã [hoje]", disse Luiz Augusto Pacheco, gestor da Inva Capital. "Uma medida dessas nunca é positiva para a empresa. Se a Aneel autorizou o aumento, é porque a Copel teve custos maiores e tem o direito de cobri-los. Se não aplicar o reajuste, o lucro pode cair." Uma queda nos ganhos da Copel, lembra o analista, pode afetar o pesado plano de investimentos da empresa e prejudicar sua intenção de pagar mais dividendos aos acionistas.
Alta de custos
Em seu perfil no Facebook, Beto Richa afirmou que a Aneel estaria repassando os gastos do acionamento de termelétricas "para várias concessionárias de energia". Na verdade, o que a Aneel fez como faz todos os anos foi dar à Copel o direito de recuperar as despesas que a concessionária já teve com a compra de energia, inclusive das usinas térmicas. Se a estatal não aplicar o reajuste, vai absorver sozinha o aumento de custos.
Segundo a Aneel, a alta das despesas com a compra de energia teve impacto de oito pontos porcentuais no reajuste médio de 14,61%. Os custos subiram em parte pela alta do dólar, que encareceu a eletricidade comprada de Itaipu. Mas o principal fator de pressão veio do uso intensivo de termelétricas.
Como a geração de energia térmica é mais cara, o gasto extra estimado por alguns especialistas em cerca de R$ 1 bilhão por mês é bancado inicialmente pelas distribuidoras e, depois, repassado aos consumidores.
Estatal compra eólicas e terá 30% de usina
O conselho de administração da Copel aprovou, na quarta-feira, dois negócios que devem exigir da empresa um desembolso próximo de R$ 760 milhões nos próximos anos. Um deles foi a entrada da estatal na usina hidrelétrica de Baixo Iguaçu, com participação de 30%, "sem pagamento de prêmio pela oportunidade de negócio". O empreendimento, cuja construção será anunciada hoje pelo governador Beto Richa, pertence ao consórcio Geração Céu Azul, formado pelas empresas privadas Neoenergia (90%) e Desenvix (10%).
Planejada para o Rio Iguaçu, nos municípios de Capanema e Capitão Leônidas Marques (Sudoeste do estado), a hidrelétrica terá capacidade instalada de 350 megawatts (MW) e deve consumir investimentos de R$ 1,59 bilhão desse total, R$ 477 milhões ficarão a cargo da Copel.
A estatal também vai comprar, por R$ 286,1 milhões, sete parques eólicos no Rio Grande do Norte. Pertencentes à Salus Fundos de Investimento em Participações, eles têm potência máxima de 183,6 MW. "A aquisição atende ao objetivo estratégico da Copel de aumentar a participação no segmento de geração por meio de fontes renováveis em sua matriz energética", disse a companhia.
Contas a receber
O conselho da Copel aprovou, ainda, a liquidação antecipada da Conta de Resultados a Compensar (CRC), uma dívida bilionária que a empresa tem a receber do governo estadual. O Executivo propôs pagar a dívida com desconto de 10%. No fim de março, o saldo dessa conta era de R$ 1,38 bilhão. Com o desconto, cairia a R$ 1,24 bilhão.
A ideia do governo é pegar um empréstimo do Credit Suisse, cuja taxa de juros pode ficar abaixo de 7% ao ano, para quitar a dívida com a Copel, cujas taxas beiram 13% ao ano. A operação ainda depende de autorização da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) e do Senado.