Consumo
Mais segurança para comprar
Depois de um período de baixa, o Índice de Endividamento e Inadimplência do Consumidor voltou aos mesmos patamares do início do ano. Junho foi o mês em que o porcentual se mostrou mais baixo nas duas faixas de renda pesquisadas (acima e abaixo de dez salários mínimos), atingindo 45,7% e 55,3% respectivamente. Em setembro, 49,3% das famílias com maior rendimento estavam endividadas, índice que sobe para 60,8% entre as menos abastadas. Em janeiro, esses índices estavam em 51,8% e 62,6%.
Na avaliação do economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o maior endividamento é consequência do momento favorável da economia. "Estamos com a segunda menor taxa de juros desde que o índice começou a ser medido, no ano 2000. A oferta de crédito é a segunda mais alta nesse mesmo período, a inadimplência é a mais baixa em cinco anos, o brasileiro está ganhando mais e o índice de emprego cresce. Todos esses fatores geram mais otimismo e as pessoas se sentem mais seguras para comprar no longo prazo", diz. (IF)
A confiança do brasileiro em relação à economia do país aumentou e setembro foi o quinto mês consecutivo de alta do índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF), medido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). No entanto, em alguns casos o otimismo aparece junto com a falta de controle das finanças, o que causou o aumento de outro índice o de famílias que contraíram dívidas e que não têm como pagar, especialmente na faixa de maior poder aquisitivo.
Lares com renda maior que dez salários mínimos apresentam a maior oscilação de inadimplência. Em julho, 2,3% das famílias nessa faixa de rendimento declararam não ter condições de saldar suas dívidas; em setembro, esse índice quase dobrou, alcançando 4,2% dos entrevistados. O problema ainda atinge mais famílias com ganhos abaixo de dez salários, mas a inadimplência vem se mantendo estável desde o início do ano nesses casos, partindo de 10,7% em janeiro, registrando o menor patamar em junho (8,6%) e voltando a se elevar em setembro, para 9,9%.
Cheque especial
O maior vilão das finanças familiares tem sido o cartão de crédito. Esse tipo de dívida é o mais citado na pesquisa (71%), seguido dos carnês (21%), do crédito pessoal (10,7%), financiamento de carros (10,4%) e do cheque especial, com 8,4%. Foi justamente no cheque especial que a família da empresária Sheila Ferreira, casada e mãe de dois filhos, viu crescer uma dívida que se mostra impagável, pelo menos no curto prazo.
Com renda superior a dez salários mínimos, Sheila e a família planejavam a compra da casa própria através de um consórcio imobiliário, mas o sonho acabou se tornando um pesadelo. "O vendedor do consórcio disse que poderíamos dar lances embutidos, recebendo assim apenas parte do valor total do imóvel. Fechamos contrato esperando que seríamos contemplados rapidamente dessa forma, mas não foi o que aconteceu. Na sexta parcela tivemos de recorrer ao cheque especial, até que a coisa ficou insustentável", relata. Assim, enquanto o consórcio não devolver o investimento, ela não vê outra alternativa para cobrir a dívida que contraiu. "A dívida inicial era de mais de R$ 15 mil. Vamos negociar com o banco quando liberarem os créditos do consórcio, mas isso pode acontecer até 2020", diz a empresária.
Educação financeira
Segundo o economista da CNC Fábio Bentes, a inadimplência é o item que mais incomoda na conjuntura econômica e que mais problemas traz para as famílias endividadas. "O crescimento do nível de endividamento é um processo natural dentro do quadro atual, com grande oferta de crédito, parcelamento cada vez mais longo e juros em baixa. O problema são as contas que se mostram insolúveis. O ideal é não dar o primeiro passo na direção do abismo", aconselha.
No entanto, para o economista, o processo de educação financeira não acontece de forma rápida. "O brasileiro está aprendendo a lidar com seu dinheiro, mas pode levar décadas até que uma cultura financeira mais estável se perpetue na sociedade. Com a estabilidade da moeda, nós aprendemos que era possível fazer dívidas de longo prazo dentro do orçamento, agora estamos aprendendo a olhar não somente para o valor da parcela, mas para as taxas de juro, que ainda são das mais altas do mundo", explica Bentes.
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Interatividade
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