| Foto: Divulgação/MME
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A possibilidade de que a economia brasileira volte a crescer em ritmo acelerado em 2021, com a implementação de um plano amplo de vacinação contra a Covid-19 no país, reacendeu no setor produtivo o temor de possíveis falhas no fornecimento de energia elétrica. No fim do ano passado, o próprio presidente Jair Bolsonaro afirmou, em resposta a um seguidor nas redes sociais, que o Brasil "poderia ter" um apagão (ou mais de um) se nada fosse feito. Entre especialistas, porém, não há consenso sobre o assunto. E as autoridades do setor dizem não ver risco de desabastecimento, nem mesmo com a plena retomada das atividades econômicas e do crescimento.

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Por um lado, é verdade que os reservatórios de hidrelétricas estão com níveis baixos por conta da seca, principalmente na Região Sul. Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), dezembro registrou a segunda pior afluência – quantidade de água chegando aos reservatórios – para o sistema em 90 anos. No Sul e no Sudeste/Centro-Oeste, os valores foram os priores da última década.

"Estamos em uma situação em que, por vários anos, a hidrologia tem sido ruim. Os reservatórios estão muito vazios", explica Roberto Brandão, pesquisador sênior do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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Na segunda-feira (25), os reservatórios do Sistema Interligado Nacional (SIN) ocupavam em média 35,3% de sua capacidade máxima. A pior situação era a do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o maior do país, com nível de 23%. Sul e Norte estão um pouco melhores, com 35,8% e 30,8%, respectivamente. No Nordeste, o índice é de 51,5%.

Embora os índices atuais sejam ruins, a expectativa é de que o armazenamento cresça nesta época do ano, com o aumento das chuvas. Além disso, a configuração do sistema, segundo o analista, é de uma capacidade instalada muito superior à demanda. "O consumo tem crescido pouco nos últimos anos, enquanto a capacidade instalada aumentou muito. É claro, sempre pode vir uma seca pior que a outra, mas um apagão me parece improvável", avalia Brandão.

Com outra perspectiva, Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), avalia que há sim o risco de haver um racionamento como o de 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo ele, isso pode acontecer caso a economia volte a crescer de forma vigorosa – o que parece pouco provável, segundo as previsões dos economistas – e o volume de chuvas continue baixo.

"Desde 2012, quando, com a Medida Provisória 579, o governo Dilma Rousseff tentou reduzir as tarifas de energia na marra, o nível dos reservatórios nunca se recompôs. Não tivemos racionamento porque a economia brasileira não cresceu. A minha preocupação é de que esse ano, depois da pandemia, haja um retorno do crescimento e a gente não tenha energia para isso", explica Pires.

O tamanho do parque gerador e a demanda de energia no Brasil

Segundo o ONS, o parque elétrico brasileiro tinha em novembro (dado mais recente) uma capacidade instalada de 165 mil megawatts (MW), que deve aumentar cerca de 3% até o fim de 2021, chegando a 170 mil MW. A perspectiva é encerrar 2025 com potência total de 181 mil MW, cerca de 10% maior que a atual.

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Esse parque gerador "nominal" é muito maior que o consumo. No acumulado deste mês de janeiro, a carga média de energia no SIN – uma medida de demanda por energia – está em 69 mil MW, abaixo da registrada em janeiro de 2020 (70,7 mil MW), mas acima da média de todo o ano passado (66,4 mil MW). A demanda máxima na última sexta-feira (15) foi de aproximadamente 80 mil MW. A maior demanda instantânea já registrada no país foi de 90,5 mil MW, em 30 de janeiro de 2019.

A questão é que nem toda a capacidade de geração do parque elétrico fica disponível ao mesmo tempo. Na última semana, a capacidade de geração sincronizada no país todo era de aproximadamente 86 mil MW.

Esse montante à disposição varia diariamente, por uma série de fatores. Eles vão da disponibilidade da fonte de energia (água, sol, vento, gás natural, óleo combustível e outras) a questões como paradas de manutenção, problemas técnicos e até desligamento temporário de unidades geradoras por falta de demanda.

Se notar que a demanda está crescendo muito rápido e que as usinas em funcionamento podem não dar conta dela, o ONS pode determinar o acionamento de termelétricas que estão desligadas, ampliando assim a capacidade disponível de geração. Mas há um limite para o acionamento das usinas térmicas, que não são capazes de substituir toda a geração hidrelétrica. É por isso que o esvaziamento de reservatórios e o risco de apagão preocupam alguns analistas – mas não chegam a alarmar outros tantos, ao menos por enquanto.

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Falta de chuvas deve encarecer a tarifa de energia

Com apagão ou não, a perspectiva é de que a tarifa de energia fique mais cara em 2021. Estimativa da TR Soluções, empresa de tecnologia aplicada ao setor elétrico, é de que as tarifas residenciais tenham aumento médio de 14,5% neste ano. A projeção foi realizada pelo Serviço para Estimativas de Tarifas e Energia (SETE), considerando as distribuidoras e permissionárias do país.

"Como os reservatórios estão vazios e o consumo está crescendo, é possível que a energia fique cara porque teremos que usar as termoelétricas", explica Brandão. Como a geração termelétrica é mais cara que a hidrelétrica, o acionamento das usinas térmicas tem como efeito o encarecimento do custo total de geração, que periodicamente é repassado ao consumidor.

Em dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) chegou a acionar a bandeira vermelha na cobrança da energia elétrica. Em janeiro, o patamar recuou para amarelo – de qualquer modo, maior do que aquele que vinha sendo praticado em 2020, quando a bandeira foi mantida no nível verde por causa da pandemia. Outra mudança, na forma de cálculo do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), deve encarecer a energia nos horários de maior demanda para os consumidores do mercado livre.

Nesse contexto, Clauber Leite, coordenador do Programa de Energia e Sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), aponta para a necessidade de estímulo à eficiência energética. "Economizar não é algo só para os momentos de crise. Deveria ser um hábito", afirma Leite. No site do Idec é possível ver dicas para gastar menos energia e fazer simulações da conta de luz.

O que dizem o ONS e o governo sobre a chance de apagão em 2021

Procurado pela Gazeta do Povo para comentar o risco de apagão, o ONS informou que "não prevê riscos de desabastecimento de energia elétrica para a população".

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O Ministério de Minas e Energia (MME) informou, em seu site, que o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) "reitera a garantia do suprimento de energia elétrica em 2021 aos consumidores brasileiros, com o compromisso da manutenção da prestação dos serviços pelo setor elétrico brasileiro no cenário atual e futuro, após a plena retomada das atividades econômicas e crescimento do país".

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