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Risco de apagão chega à economia real

Paulo Alfredo Carniel Junior diz que nunca viu o mercado de geradores tão aquecido em 12 anos de atividade | Antônio More/Gazeta do Povo
Paulo Alfredo Carniel Junior diz que nunca viu o mercado de geradores tão aquecido em 12 anos de atividade (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

Pouco depois das eleições, quando notou que a crise do setor elétrico não daria trégua tão cedo, o empresário Roberto Magnani decidiu agir. Sócio da pizzaria Avenida Paulista, em Curitiba, ele investiu em duas grandes câmaras frias, capazes de manter os alimentos resfriados por oito horas sem eletricidade. Também comprou sete no-breaks, para manter os computadores ligados por até 40 minutos após uma queda de energia. De resto, o forno a lenha dará conta das pizzas e os lampiões, de iluminar o ambiente.

Isso foi o que Magnani fez para se precaver de blecautes como o que ocorreu um mês atrás em várias regiões. Para aliviar o impacto do violento aumento da tarifa de luz e se preparar para um eventual racionamento, a ordem é poupar. "Entre outras coisas, estamos ligando o ar-condicionado um pouco mais tarde e desligando mais cedo", conta.

País afora, empresários de variados setores tomam medidas como essas para lidar com toda sorte de apagão – de cortes imprevistos ao racionamento propriamente dito. Com os reservatórios mais baixos que no racionamento de 2001, termelétricas funcionando a plena capacidade, um sistema sob risco de queda em dias de consumo mais alto, preços explodindo e o governo resistindo até mesmo a reconhecer a crise, cresce a ação das empresas para encontrar alternativas de fornecimento e, em alguns casos, para lucrar com a situação.

Felizes estão os que vendem produtos e prestam serviços relacionados à redução do consumo ou ao suprimento emergencial de energia, e que veem suas atividades crescerem rapidamente num país que parece caminhar para a recessão – o mercado financeiro prevê que o PIB cairá 0,4% neste ano, em parte por causa da crise energética.

Paulo Alfredo Carniel Junior, dono da locadora de geradores a diesel Top Geradores, conta que, em 12 anos de atividade, nunca viu o mercado tão aquecido. O número de contratos, segundo ele, aumentou 30% em relação ao mesmo período do ano passado. Até poucos dias atrás, todos os 60 geradores da empresa de Fazenda Rio Grande, na região de Curitiba, estavam alugados. "O que é ameaça para alguns é oportunidade para nós", diz.

A norte-americana Generac, que fabrica grupos geradores em Pinhais, na Grande Curitiba, aumentou a produção em 20% nos últimos meses. "Houve um crescimento significativo na procura a partir do último trimestre de 2014", diz o diretor da empresa no Brasil, Gianni Pinheiro.

Na Cummins Power Generation, que tem fábrica em Guarulhos (SP), as consultas sobre geradores cresceram 40% em relação ao início de 2014. O líder desse segmento na empresa, Evandro Bagdonas, explica que a busca ficou mais intensa depois do blecaute de janeiro e de pronunciamentos do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, indicando que o governo vai incentivar grandes consumidores a usar geradores no horário de pico.

Segundo o especialista em eficiência energética José Starosta, diretor da Ação Engenharia e Instalações, de São Paulo, a busca das empresas não se limita a geradores. "A energia não apenas está cara e pode faltar, como a qualidade está piorando. Há momentos em que a tensão fica abaixo do ideal, e momentos em que fica acima, o que derruba toda uma fábrica. Por isso, há projetos para monitorar oscilações da rede", diz. Também começam a ganhar espaço planos de geração própria de energia, por meio de painéis fotovoltaicos (solares). "Isso não substitui a eletricidade da rede, mas ajuda a complementar e economizar."

Hesitação do governo alimenta especulação

A necessidade de racionar energia é quase uma unanimidade entre especialistas e agentes do setor elétrico. Mas nem todos acreditam que ele vá mesmo ser decretado. O comportamento hesitante do Planalto alimenta especulações sobre se, quando e em que condições ocorreria uma redução compulsória do consumo.

Luís Gameiro, diretor da comercializadora Trade Energy, crê que o governo levará às últimas consequências a estratégia de impor "cortes seletivos" em momentos mais críticos para evitar o custo político de um racionamento. "Por mais que o Sudeste possa terminar o período úmido com os reservatórios em 20% da capacidade, acreditamos que o governo vai esperar para agir. Eventualmente ele pode partir para o racionamento lá em outubro, no fim do período seco, quando o custo para a sociedade será muito maior", diz Gameiro.

Para Robson Luiz Rossetin, diretor da Electra Energy, é muito provável que ocorra um racionamento no Sudeste, mas não no Sul, a exemplo do que ocorreu em 2001. "A Região Sul já está em situação bem melhor que o Sudeste e tem a vantagem de que seus reservatórios enchem mais rápido, basta uma ou duas frentes frias. Mesmo podendo transferir energia para o Sudeste, nunca enviou mais de 5 mil megawatts (MW). Seria economicamente inviável obrigar o Sul a racionar."

Segundo ele, a confirmação dessa hipótese criaria uma situação favorável para as geradoras de energia do Sul. Na hipótese de um racionamento de 20% da carga, uma companhia que precisa fornecer 10 MW ao Sudeste ficaria desobrigada a entregar 2 MW, que poderiam ser comercializados na Região Sul, no mercado livre. "Se houver racionamento, quem tiver energia disponível para vender no curto prazo vai ganhar muito dinheiro", diz Rossetin.

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