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Energia elétrica

Risco de apagão não vem só da seca ou do calor

Em busca do curto-circuito? Setor elétrico tem fragilidades que vão além de um blecaute ocasional | Roberto Custódio / Jornal de Londrina
Em busca do curto-circuito? Setor elétrico tem fragilidades que vão além de um blecaute ocasional (Foto: Roberto Custódio / Jornal de Londrina)

Falta de chuva e calor de sobra escancararam as fragilidades que o setor elétrico acumulou nos últimos anos. Com reservatórios minguados, termelétricas a toda e consumo recorde, o país enfrenta a maior temporada de blecautes em sete anos, voltou a encarar a possibilidade de racionamento e assiste à disparada dos custos de geração, que cedo ou tarde vai pesar na conta de luz.

A energia já ficou bem mais cara no mercado livre, que reúne grandes indústrias e responde por mais de um quarto do consumo. As empresas que precisarem de eletricidade extra neste ano terão de pagar mais de R$ 400 pelo megawatt-hora (MWh) – há pouco tempo, saía negócio por R$ 160.

Preocupado com a inflação e a popularidade, o governo tenta evitar que a alta dos custos chegue também ao mercado regulado (que inclui o consumo residencial). Enquanto a conta não é apresentada ao consumidor, quem paga a fatura é o contribuinte, pois é o Tesouro que banca o "represamento" das tarifas.

Desequilíbrios

Pelo lado do abastecimento, há quem considere que a crise vai passar tão logo o clima ajude, como ocorreu no ano passado. Mas, para muitos especialistas, a repetição do drama em tão pouco tempo é uma evidência de que, por trás da aparente falta de sorte, o setor enfrenta desequilíbrios mais sérios.

"A vulnerabilidade do sistema elétrico não é conjuntural, isto é, não resulta de condições hidrológicas desfavoráveis nem de um crescimento brusco da demanda. Ela é consequência de deficiências estruturais na capacidade de suprimento", afirmou a consultoria PSR em relatório enviado a clientes, no qual calculou que há 17,5% de chance de racionamento neste ano – na quinta-feira, o governo admitiu existir uma "baixíssima probabilidade".

A PSR aponta que os reservatórios estão perdendo capacidade de armazenamento por fatores como o assoreamento dos rios, ignorado pelos modelos do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Também há atrasos em linhas de transmissão e usinas. Em 2012, apenas 20% da potência esperada entrou para o sistema. Em 2013, 44%.

"As restrições de oferta e demanda são conhecidas", diz Lavinia Hollanda, coordenadora de pesquisas da FGV Energia. "Sabemos que as novas hidrelétricas não têm reservatório. Que estão longe dos centros de consumo e exigem longas linhas de transmissão, mais vulneráveis. Que os projetos estão atrasando. E que o consumo está subindo. Não se trata de uma mera combinação de fatores conjunturais."

Reservatórios

A questão dos lagos de hidrelétricas é das mais polêmicas. Por razões ambientais, a maioria das novas usinas é a fio d’água, para que a área alagada seja menor. Mas isso reduziu a capacidade do sistema de suportar estiagens. "Antes os reservatórios duravam anos, agora duram meses", diz Walfrido Avila, presidente das comercializadoras Tradener e Trade Energy.

Roberto Pereira D’Araújo, diretor do Instituto Ilumina, vê problemas também na gestão. "O governo demorou demais para acionar as usinas térmicas em 2012, exaurindo os reservatórios. Só acionou em setembro, depois que a presidente Dilma anunciou a queda das tarifas. Talvez tenha sido tarde demais."

País não investe em eficiência energética

Um dos defeitos da gestão do sistema elétrico brasileiro, segundo especialistas, é que ela dá muita atenção à oferta de energia e ignora a demanda.

"O governo só planeja a expansão, coisa da década de 1970. Não há estímulo à eficiência energética, ao consumo mais racional", diz o doutor em planejamento de sistemas energéticos Paulo Henrique Sant’Ana, professor da Universidade Federal do ABC.

Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), o país desperdiçou 46,4 mil gigawatts-hora (GWh) no ano passado, o equivalente a 10% do consumo.

Embora diferentes estimativas apontem que é possível poupar de 10% a 15% da energia consumida hoje, os programas do governo federal – o Programa de Eficiência Energética (PEE) e o Procel – contribuem para uma economia de apenas 1,5%.

Carga deslocada

Uma das sugestões de Sant’Ana é que as tarifas "horossazonais" (que variam conforme a hora do dia), hoje restritas à indústria, sejam estendidas aos demais consumidores.

"Isso estimularia as pessoas a deslocar seu consumo, evitando os horários de pico e contribuindo para o equilíbrio do sistema", diz.

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