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Crise hídrica

Risco de racionamento e de blecautes cresce a partir de outubro, dizem analistas

Apagão e racionamento
Segundo XP, apagão é possível e chance de racionamento triplicou. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

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Cidades dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais tiveram um apagão na noite de sábado (18). O Operador Nacional do Sistema (ONS) informou neste domingo (19) que o blecaute não teve relação com a crise hídrica, e sim com um problema em uma subestação de energia. Apesar disso, a piora no cenário hidrológico brasileiro aumentou o risco de desabastecimentos pontuais – os chamados blecautes ou apagões – já a partir de outubro. E a probabilidade de um racionamento de energia no país mais que triplicou desde agosto.

A análise está em relatório da XP sobre a crise hídrica, assinado pelos analistas de energia elétrica e de saneamento Maíra Maldonado e Victor Burke.

Conforme os especialistas, chegou 27% menos água do que o esperado aos reservatórios das hidrelétricas no mês de agosto e a geração de fontes hídricas e térmicas também ficou abaixo da projeção feita anteriormente.

Essas perdas foram parcialmente compensadas por medidas adotadas pelo governo brasileiro e pela geração solar e eólica acima das expectativas. O que, entretanto, não foi suficiente para evitar que o nível de água armazenada para a geração de energia baixasse, caracterizando um cenário "significativamente pior" de setembro em diante. Essas condições também foram indicadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que apontou a necessidade de incrementar a oferta para evitar cortes.

Como resultado, estimativas anteriores foram atualizadas, fazendo a probabilidade de racionamento nos próximos 12 meses saltar de 5,5% – no relatório do início de agosto – para 17,2%. Conforme a XP, esse número ainda não pode ser apontado como "necessidade de racionamento", classificada como improvável, mas "a crescente probabilidade de um cenário crítico fez com que o governo adotasse medidas preventivas para evitá-lo".

O anúncio dos programas de incentivo financeiro em troca de redução voluntária de demanda (tanto para o mercado livre de energia quanto para o mercado regulado) vem nesse sentido, aliado à contratação de usinas adicionais, a importação de energia de países vizinhos e o adiamento de manutenções programadas. Com esse conjunto de ações, o governo ainda afasta a possibilidade de partir para a adoção de determinações compulsórias de economia de energia que, até o momento, estão restritas ao serviço público.

Risco de apagões

Algumas movimentações para garantir o atendimento à demanda, entretanto, incluem riscos. "A geração hídrica mais baixa no Sudeste exige trazer mais energia das regiões Norte e Nordeste, o que coloca mais pressão no sistema de transmissão e exige uma operação com menos backups para atender a demanda de energia. Isso significa que o sistema ficará mais vulnerável a distúrbios como queimadas, tempestades e falhas humanas", explicam Victor Burke e Maíra Maldonado no relatório.

A avaliação trata especificamente de flexibilizações aplicadas à operação de envio de energia entre os subsistemas brasileiros, reduzindo o critério de confiabilidade de N-2 para N-1. A mudança, em analogia, significa a existência de menos "redes de segurança" contra falhas para permitir que a geração de um local possa ser consumida em outro, deficitário em energia. É o que ocorre atualmente com a energia gerada pelos ventos e o sol do Nordeste, que vem alcançando recordes e abastecido as unidades consumidoras de Sudeste e Centro-Oeste, que compõem o subsistema mais afetado pela falta de chuva.

Ainda segundo os analistas, é provável que o país experimente mais apagões por volta de outubro e novembro, à "medida que o período seco se estende e mais pressão é adicionada às linhas de transmissão".

Atualmente, os reservatórios do Sistema Integrado Nacional (SIN) contam com apenas 26% da capacidade de armazenamento e a expectativa é de que o nível possa baixar até perto dos 10% nos próximos dois meses, que ainda são de transição para a estação úmida, caracterizada de fato só a partir de novembro.

Ainda que preocupante, o cenário não deve significar impacto relevante para empresas do setor, segundo a XP, uma vez que blecautes são episódios temporários e pontuais. De modo prático, eles são um problema de gerenciamento de carga, que ocorre justamente quando a demanda ultrapassa a capacidade das linhas de transmissão e faz com que o fornecimento seja interrompido.

Medidas para evitar o racionamento

Medidas excepcionais de enfrentamento à crise hídrica são adotadas pelo governo federal desde outubro de 2020, quando a escassez já estava configurada. A partir de então optou-se pelo acionamento antecipado das termelétricas (ainda na transição do período seco para o úmido) e paralelamente foi iniciada a importação de energia gerada em países vizinhos (como Uruguai e Argentina) e a flexibilização de normas de operação de hidrelétricas discutidas junto à área ambiental.

As movimentações se intensificaram, entretanto, a partir de junho com a centralização das ações na Câmara de Regras Excepcionais (Creg) criada por meio de Medida Provisória. Entre as medidas mais recentes adotadas pelo grupo está a autorização de contratação de recursos energéticos adicionais a partir de 2022 para evitar o descompasso entre oferta de energia e demanda do consumo e a criação de uma bandeira tarifária excepcional, vigente até abril de 2022, para arcar com os custos mais caros da geração termelétrica em meio á escassez hídrica.

Após admitir o agravamento do cenário do setor elétrico por causa da afluência abaixo do previsto, o governo federal incrementou essas ações anteriores na ponta da oferta com foco em redução do consumo, puxadas pelos programas de incentivo à redução no consumo, que oferecem uma compensação financeira em troca da economia na conta de luz.

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