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Piracicaba (SP) – O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, voltou a criticar ontem a área econômica do governo, por reter recursos que deveriam ser destinados à defesa sanitária de rebanhos e lavouras e por manter a política de juros altos e real valorizado, que prejudicam os rendimentos e as exportações do agronegócio. Ele criticou também a "burocracia" federal, que ainda não regulamentou a Lei de Biossegurança, que autoriza a pesquisa, o plantio e a comercialização de transgênicos.

Diante desse cenário – somado à crise de rentabilidade do produtor rural, provocada pelo aumento dos custos e pela seca que afetou a safra passada –, Rodrigues previu que 2006 será um "ano sombrio" para a agropecuária brasileira. Neste ano, apenas o setor de grãos sofreu perdas de R$ 17 bilhões, decorrentes da queda de produção ou da redução dos preços dos produtos.

Na avaliação do ministro, a área plantada na atual safra de verão sofrerá uma queda de 5%, com menor investimento em tecnologia – sementes certificadas, adubos, defensivos e máquinas. "Haverá uma forte redução da produção no ano que vem, com menor estoque de produtos agrícolas, o que poderá levar ao aumento da inflação", previu.

O desabafo do ministro foi feito no final da manhã de ontem, na Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiróz (Esalq), em Piracicaba (interior paulista, a 170 quilômetros a noroeste da capital), principal centro de excelência da área no país, onde Roberto Rodrigues se formou agrônomo há 40 anos e da qual foi diretor. Ele esteve no local para participar do lançamento do Plano Nacional de Agroenergia que, além do seu ministério, envolve as pastas de Minas e Energia e Ciência e Tecnologia. O objetivo do plano é desenvolver o biodiesel no país.

Em um discurso emocionado, que durou 1 hora e 10 minutos, Rodrigues disse que a agropecuária brasileira vive a pior crise dos últimos 20 anos. Declarou-se frustrado diante dessa crise e por não conseguir "convencer outros setores do governo a atender melhor" as demandas dos produtores rurais e "profundamente aborrecido" com o surgimento de um foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, situação que já afeta as exportações brasileiras de carne.

O ministro afirmou que as ações de defesa sanitária animal e vegetal (que incluem, por exemplo, o combate à aftosa, à ferrugem da soja e ao cancro cítrico) do Ministério receberam R$ 50 milhões este ano, diante de uma previsão orçamentária inicial de R$ 169 milhões, "a melhor da década". Até o fim do ano, o setor deverá receber mais R$ 41 milhões. Rodrigues ressalvou, no entanto, que, mesmo que o orçamento para defesa sanitária tivesse sido mantido, não seria uma garantia de que a aftosa estaria contida. "Não é uma responsabilidade apenas federal, mas envolve também estados e municípios."

Rodrigues disse também que, desde fevereiro, vem pedindo à área econômica recursos de R$ 1 bilhão para os instrumentos de compra da produção agrícola, como forma de manter o preço mínimo dos produtos mais afetados pela competição externa gerada pelo dólar desvalorizado, como arroz e trigo. "Até agora, recebemos 40% desses recursos. Queria anunciar [novas liberações] aqui, hoje. Mas o cobertor do governo brasileiro é curto."

Além da área econômica, Roberto Rodrigues atacou a burocracia federal que, na sua interpretação, estaria afetando o desenvolvimento de segmentos do agronegócio. Criticou a falta de regulamentação da nova Lei de Biossegurança, aprovada em março. Na área agrícola, ela liberou os transgênicos. "As coisas não andam na burocracia da máquina pública", disse o ministro. "Vamos perder um ano de pesquisa por falta da regulamentação da lei."

Apesar de apontar tantos "fantasmas" que atrapalham o setor, o ministro se declarou "empenhado até a medula" em superar a crise, que classificou de conjuntural. Negou que deixará o governo, respondendo às especulações sobre sua demissão. "Tenho esperança, confiança e otimismo e acredito que a competência do nosso agricultor será a alavanca dessa virada."

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