Os profissionais que assumiram a gestão do Panamericano a partir de novembro não têm dúvidas: o rombo de R$ 4 bilhões no banco foi provocado por má gestão e incompetência. A maior parte do buraco adicional de R$ 1,5 bilhão, descoberto em janeiro, é explicada por erros técnicos, não por fraudes contábeis.
Cerca de R$ 400 milhões decorrem de contabilização equivocada das chamadas provisões para perdas de devedores duvidosos (conhecidas como PDD, no jargão do setor bancário). Outros R$ 370 milhões são fruto de erro na contabilização de uma operação chamada de hedge cambial. Quando fazem transações no exterior (como emissões), os bancos são obrigados a proteger esse patrimônio em dólar aqui dentro. Vão ao mercado futuro e compram ou vendem moeda estrangeira. A gestão anterior calculou que essa operação gerava um lucro de R$ 170 milhões. Com a valorização recente do real, havia na verdade um prejuízo de R$ 200 milhões.
Todos esses dados devem ser finalmente conhecidos pelo mercado na próxima sexta-feira, quando o Panamericano deve divulgar, de uma só vez, os balanços relativos ao terceiro e ao quarto trimestres de 2010. O BTG Pactual, que assumiu o controle do banco, quer ver os dados na praça logo para acabar com as fortes oscilações dos papéis do banco na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Na terça-feira, as ações do Panamericano subiram mais de 20% e em 2011, já acumulam valorização de 26,4%. Nos últimos 12 meses porém, ainda têm uma perda de quase 52%.Silvio Santos só vendeu banco após pressão do BC
Silvio Santos só aceitou vender o controle do Panamericano para o BTG Pactual após receber um telefonema do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, no início da tarde de segunda-feira, dia em que o negócio foi anunciado. Até então, o empresário relutava em aceitar as condições da operação. O contrato foi assinado por volta das 20h30.
Segundo fontes que acompanharam as negociações, desde a confirmação do novo rombo (de R$ 1,5 bilhão), cerca de 10 dias atrás, Silvio mostrou-se irritado. Em diversas ocasiões, "trucou". O empresário dizia que, se as condições de venda não fossem mais favoráveis a ele, o BC poderia liquidar de vez o Panamericano. Procurada, a assessoria de Silvio não quis comentar. O BC não se pronunciou.
Em novembro, o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) emprestou R$ 2 5 bilhões para cobrir um rombo no banco, descoberto em setembro pelo BC. Em troca, Silvio deu o patrimônio como garantia. O FGC é uma entidade mantida pelos bancos para garantir depósitos de correntistas em caso de quebra de banco.
No dia 9 de novembro, a diretoria do Panamericano foi demitida. Assumiram executivos indicados pela Caixa (que tem 49% do capital votante) e pelo FGC, que identificaram mais inconsistências nos números. O buraco não era de R$ 2,5 bilhões. Chegava a R$ 4 bilhões. A única saída para evitar a liquidação do banco era um novo empréstimo. Os principais banqueiros do País aceitaram cobrir o rombo. Mas exigiram a troca do acionista controlador, Silvio Santos.
As conversas começaram. O FGC apresentou um esboço de proposta a Silvio, que impôs uma condição: só venderia o banco se saísse sem dívida e com o patrimônio liberado. Os banqueiros não gostaram. Mas avaliaram que a alternativa seria pior. Uma quebra do banco geraria despesa adicional de R$ 2,2 bilhões para o FGC, que teria de cobrir depósitos de clientes. No total, chegaria a R$ 4,7 bilhões. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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