"É plausível se pensar que, para viabilizar recursos para pagamento de empréstimos, uma das medidas possa ser, certamente, a venda da participação acionária [do Grupo Silvio Santos] no banco." Henrique Meirelles, presidente do BC, indicando que o apresentador de tevê terá de vender o PanAmericano para saldar a dívida com o Fundo Garantidor de Crédito| Foto: Antonio Cruz/ABr

Mercados

Bovespa cai 0,62%, banco sobe 4,6%

No dia seguinte ao "tombo" de quase 30%, as ações preferenciais do banco PanAmericano subiram 4,6%, movimentando R$ 63 milhões em negócios na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O valor está bem acima da média de operações com o papel, mas foi inferior aos R$ 160 milhões contabilizados anteontem.

O Ibovespa, que reflete as ações mais negociadas, caiu 0,62%, aos 71.195 pontos. O dólar comercial fechou em R$ 1,719, com alta de 0,46%. Hoje investidores monitoram a reunião do G20, que pode causar alguma volatilidade nos negócios, conforme o clima político do encontro – a controversa "guerra cambial" deve pautar as discussões.

Página virada

Concorrentes do PanAmericano, os demais bancos pequenos – que também sofreram perdas na Bovespa com a repercussão da fraude – tentam virar a página ao dizer que o rombo foi um caso isolado, comandado por criminosos especializados em "contornar os controles’’. "O mercado tende a se acalmar e sai mais sólido. Se tinha uma banco com problemas e práticas inconsistentes, agora não tem mais’’, disse Renato Oliva, presidente da ABBC, associação dos bancos pequenos.

Folhapress

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O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, revelou ontem que o rombo do Banco PanAmericano não envolve apenas as operações de crédito. Em audiência pública no Congresso Nacional, Meirelles afirmou que, além de problemas em carteiras de crédito (R$ 2,1 bilhões), também foram detectadas operações irregulares em cartões de crédito (R$ 400 milhões). O PanAmericano recebeu um aporte de R$ 2,5 bi­­lhões do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para cobrir o rombo.

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Meirelles fez questão de ressaltar que BC agiu rapidamente, antes da entrada dos conselheiros e executivos da Caixa Econômica Federal na instituição. Caso contrário, a Caixa – que em dezembro de 2009 comprou 36,56% do total das ações do banco – também teria responsabilidade no rombo de R$ 2,5 bilhões. O presidente do BC reiterou que, no socorro ao PanAmericano, não foi usado "um centavo público" e não houve prejuízo para os depositantes.

Caso isolado

Ao ser questionado se a inconsistência vista na subsidiária de cartões do banco também envolveria outras instituições financeiras, Meirelles afirmou que "não há indícios disso". Segundo o diretor de fiscalização do BC, Alvir Hoffmann, não há detalhes sobre essas operações inconsistentes nos cartões, porque o problema de R$ 400 milhões foi declarado pela diretoria do PanAmericano, sem que o BC tenha detectado isso previamente. Mas, segundo fontes, o banco não teria repassado às bandeiras o pagamento das faturas feitas pelos portadores dos cartões.

Em entrevista após o fim da audiência, Meirelles disse que a investigação do BC não encontrou qualquer sinal de problemas semelhantes ao do PanAme­­ricano em outras instituições do mesmo segmento de pequeno e médio porte – mas fazendo a ressalva de que "nenhum BC do mundo pode garantir responsabilidades futuras".

Apesar de o BC só ter descoberto recentemente um problema que pode ter começado há quatro anos, Meirelles disse que a institui­ção agiu a tempo. "É muito raro uma situação na qual o Banco Central determina um problema a tempo, de maneira que possa ser resolvido dentro dos parâmetros fixados pela lei e das possibilidades do FGC."

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O BC já comunicou ao Ministério Público Federal que encontrou indícios de fraude nas operações do PanAmericano – o que abre caminho para que os responsáveis possam eventualmente ser punidos criminalmente.

Silvio Santos

Para Meirelles, o grupo de Sílvio Santos deve vender o PanAmericano para honrar suas dívidas com o FGC. Nos bastidores, no entanto, é esperado que o empresário terá de se desfazer não só do banco, mas de boa parte de seu patrimônio empresarial, menos o canal de tevê SBT.

O contrato fechado com o FGC teria uma cláusula obrigando a venda dos ativos, uma vez que não se espera que as empresas do grupo gerem caixa suficiente para honrar a dívida – ainda que esta tenha de ser paga em dez anos, com carência de três.