Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
déficit

Rombo histórico na conta externa

Movimento no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo: nunca os brasileiros gastaram tanto fora do país | Filipe Araujo/AE
Movimento no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo: nunca os brasileiros gastaram tanto fora do país (Foto: Filipe Araujo/AE)
Veja como funcionam as transações correntes |

1 de 1

Veja como funcionam as transações correntes

A economia aquecida e o dólar barato levaram as contas externas a um rombo histórico em 2010. Com recorde nas viagens internacionais, remessa de lucros em alta e mais importações de mercadorias e serviços, o Brasil registrou saldo negativo de US$ 47,51 bilhões na conta de transações correntes – que registra a entrada e saída de dólares para pagamento de bens e serviços. O valor é quase o dobro do verificado no ano anterior e recorde da série histórica iniciada em 1947. Apenas em dezembro, o déficit somou US$ 3,49 bilhões.

Ao apresentar os números, o chefe do Departamento Econô­mico do Banco Central, Altamir Lopes, minimizou o aumento do saldo negativo que, de um ano para o outro, cresceu mais de US$ 23 bilhões. "O déficit aumentou e é recorde em dólares. Mas, se com­­parado ao tamanho da economia, o resultado corresponde a 2,28% do Produto Interno Bruto, abaixo do recorde." Nesses termos, o resultado é o mais alto desde 2001, quando as contas externas obtiveram saldo negativo equivalente a 4,19% do PIB. "Portanto, o resultado de 2010 é bastante acomodado", acrescentou Lopes. "Historicamente, o déficit começa a preocupar quando chega a um patamar próximo de 4,5% ou 5% do PIB", diz Fábio Kanczuk, professor de Economia da USP.

Uma marca relevante foi observada na saída de dólares para pagar aluguel de equipamentos, como guindastes e plataformas de petróleo. Em um ano, a conta cresceu 46% e somou US$ 13,68 bilhões em 2010. "A demanda por essas máquinas cresce porque a economia está aquecida e estão sendo realizados investimentos", explicou Lopes.

Também chamou a atenção a alta de 20% na remessa de lucros e dividendos feita por empresas multinacionais instaladas no Brasil, que transferiram US$ 30,37 bilhões às sedes. Nesse caso, as remessas acontecem porque as filiais brasileiras têm obtido bons resultados com a economia aquecida e, ao mesmo tempo, as sedes precisam de ajuda, já que os mercados maduros ainda enfrentam dificuldades.

Ao mesmo tempo em que o Brasil remete cada vez mais dólares para pagar as contas e transferir lucros, a entrada da moeda estrangeira tem diminuído. Na balança comercial, a demanda doméstica aquecida aumentou as importações em 42% em um ano. O desempenho afetou o saldo comercial, que caiu 20% ante 2009 e somou US$ 20,26 bilhões.

Investimento

O saldo de Investimento Estran­geiro Direto (IED), voltado para o setor produtivo, fechou 2010 com o recorde de US$ 48,46 bilhões. O fluxo positivo para o país de US$ 15,36 bilhões em dezembro, o maior para um único mês em toda a série histórica, surpreendeu todas as expectativas e levou o saldo do ano a ser mais que suficiente para cobrir o déficit em conta corrente de 2010.

Até novembro, tanto o mercado quanto o BC davam como certo que o IED não seria suficiente. A reviravolta no caso ocorreu basicamente por uma operação gigantesca no setor de petróleo, envolvendo os chineses da petrolífera Sinopec e os espanhóis da Repsol, que levaram ao ingresso de US$ 7,1 bilhões no país nos últimos dias do ano passado. A Sinopec adquiriu sozinha esse montante em ações da Repsol Brasil, que aumentou seu capital para realizar a aliança com os chineses.

Projeções

Kanczuk, da USP, acredita que, na pior das hipóteses, o déficit de 2011 deve atingir 3,5% do PIB. O Banco Central é mais otimista. Pelas projeções oficiais, o saldo negativo deste ano deve chegar a US$ 64 bilhões, ou 2,84% do PIB. O BC também trabalha com previsão de ingressos de US$ 45 bilhões em investimentos diretos para 2011. "As contas externas seguem piorando, mas em uma velocidade mais lenta que a previsto há algum tempo, especialmente porque os preços dos produtos exportados pelo Brasil têm subido acima da média", afirma Kanczuk.

Para manter saldo, país será mais agressivo

Com a missão de preservar o saldo comercial brasileiro em torno de US$ 20 bilhões em 2011, a nova equipe de secretários do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) assumiu o comando de áreas estratégicas da pasta com um discurso afinado: é preciso mais agressividade na defesa contra o aumento exagerado das importações e nas políticas de incentivo às exportações. Segundo o novo secretário-executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Emílio Garófalo Filho, a postura das autoridades brasileiras será mais dura em relação à concorrência com produtos fabricados no exterior.

"É preciso substituir as importações desnecessárias", afirmou Garófalo, ressaltando que o governo não vai criar barreiras para proteger a indústria, como ocorreu na segunda metade do século passado. "Vamos defender produtos que podem ser fabricados no Brasil da maneira adequada. O problema é quando o importado só está no mercado brasileiro porque fere a competição justa."

A ampliação do alcance das medidas de antidumping vem desde o ano passado, quando o governo anterior criou uma norma para punir com mais rigor e rapidez a triangulação de mercadorias e a falsificação de certificados de origem, artimanhas utilizadas pelos chineses para burlar as sobretaxas aplicadas pelo MDIC em situações onde a prática desleal de comércio é comprovada. "Vamos usar mais do mesmo, mas com mais agilidade e velocidade", explicou Garófalo.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.