O governo deve reduzir a mistura do etanol anidro à gasolina, hoje em 25%, para até o piso de 18%, devido à baixa oferta do combustível no início da safra e ao cenário de estagnação na produção. A decisão sobre o assunto será tomada na próxima semana, em reuniões do grupo interministerial que avalia o setor e do governo com os usineiros.
"É muito provável, dentro da política de equilibrar o abastecimento, haver a redução da adição (do anidro à gasolina), mas não é uma decisão ainda tomada", disse à Agência Estado o ministro da Agricultura, Wagner Rossi. "Uma decisão sairá provavelmente na próxima semana, em uma reunião do grupo do governo e também outra com o setor, na terça-feira ou quarta-feira", completou.
Segundo Rossi, após três meses de colheita da safra 2010/2011 de cana-de-açúcar no Centro-Sul do País há "a constatação de que a produtividade da safra está aquém do desejado". A seca do ano passado e a baixa renovação dos canaviais impactaram na produtividade das lavouras e reduziram a produção de etanol e açúcar. "Está havendo desconforto em relação ao resultado, que está abaixo das expectativas", admitiu o ministro.
Ele evitou adiantar para quanto o governo reduziria a mistura. Em abril deste ano, a presidente Dilma Rousseff editou uma Medida Provisória (MP) que, entre outros pontos, reduzia de 20% para 18% o piso mínimo da mistura do anidro à gasolina, mas não utilizou ainda o instrumento para aumentar a oferta ou reduzir a demanda do etanol.
Dados da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica) divulgados nesta semana apontam que o processamento de cana do início de abril até a primeira quinzena de junho chegou a 134,576 milhões de toneladas, queda de 23% ante um total de 173,943 milhões de toneladas de igual período da safra passada. A produção de etanol total caiu 25% se comparados os mesmos períodos, de 7,155 bilhões para 5,336 bilhões de litros.
A produção de anidro entre os períodos cresceu 9%, de 1,776 bilhão para 1,938 bilhão de litros. Mas a demanda do etanol misturado à gasolina disparou 25% nos dois primeiros meses da atual safra, ante igual período da safra passada, de 1,246 bilhão para 1,563 bilhão de litros. Com a redução na mistura, o governo conseguiria, assim, diminuir a demanda pelo anidro e até mesmo poderia incentivar a produção de etanol hidratado, utilizado nos veículos flex fuel, ou movidos exclusivamente a álcool.
Economia
Caso a mistura caia para 18% - e considerando um consumo mensal médio, nos últimos dois meses, de 650 milhões de litros de anidro com a mistura em 25% - a demanda pelo anidro poderia atingir 468 milhões de litros por mês. Com isso, haveria uma economia mensal de 182 milhões de litros de anidro. Se a mistura for reduzida para 20%, a economia mensal seria de 130 milhões de litros.
No entanto, a redução na fatia do anidro deve pressionar o preço da gasolina, já que o etanol voltou a ser mais barato que o combustível de petróleo. "Não é uma situação confortável, pois toda mudança tem consequência", concluiu Rossi.
O ministro da Agricultura preside o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (CIMA), integrado ainda pelos titulares dos ministérios da Fazenda, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e Minas e Energia. Após a decisão pela redução na mistura, o CIMA irá ratificá-la.
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