A Rumo ALL pretende investir perto de R$ 2 bilhões no Paraná nos próximos cinco anos. O investimento faz parte de um pacote que pode chegar a R$ 8 bilhões em todo o país até 2020. Somente na malha paranaense, a aplicação dos recursos permitirá um aumento de 60% no volume transportado.
O plano da Rumo ALL – companhia que resulta da fusão da Rumo, do grupo Cosan, com a América Latina Logística iniciada em 2014 e aprovada neste ano pelas autoridades brasileiras – foi dividido em duas partes. A primeira prevê R$ 2,8 bilhões em investimentos até o fim de 2016. A segunda fase vai até o fim de 2019 e contará com pelo menos R$ 4,6 bilhões, mas depende da renovação das concessões das ferrovias administradas pela empresa, em negociação com o governo federal.
A previsão é que a malha Sul da Rumo ALL, que compreende a rede nos três estados do Sul e alguns trechos em São Paulo, receba R$ 2,1 bilhões até 2020. Desse total, R$ 818 milhões serão investidos até o fim do ano que vem. Segundo Darlan de David, vice-presidente das operações Sul da Rumo ALL, cerca de 90% dos recursos (R$ 1,9 bilhão) virão para o Paraná.
Oeste paranaense
Está no radar da Rumo ALL “desbravar” o mercado de transporte de grãos no Oeste do Paraná. Há dois obstáculos com os quais a empresa está lidando: a liberação de passagem no trecho administrado pela Ferroeste, entre Guarapuava e Cascavel, e a ligação Guarapuava-Ponta Grossa, que faz parte de sua malha, mas é extremamente sinuosa. Executivos da Rumo já iniciaram conversas para encontrar um modelo de negócios com a Ferroeste. Se houver viabilidade, a empresa estaria disposta a investir na sua linha, reformando trechos onde a velocidade é mais baixa.
“Nosso foco é o Paraná, em especial o corredor para escoamento de grãos de Londrina e Maringá até Paranaguá”, explica. O objetivo é recuperar participação de mercado, que vinha em queda desde 2007, e elevar em 60% o volume transportado no estado – foram 16 milhões de toneladas no ano passado e a meta é chegar a 25 milhões de toneladas em 2020, com predominância de grãos e açúcar.
“Desde 2006, o foco da companhia foi na malha Norte, em função dos volumes transportados. Por isso, aqui a frota e a via permanente acabaram com um nível elevado de sucateamento”, diz o executivo. Com o tempo, a antiga ALL perdeu clientes importantes no estado, como grandes cooperativas, e parte da carga de produtos agrícolas migrou para o modal rodoviário.
Confiança
Assim, o investimento no estado tem uma meta que não é quantitativa: recuperar a confiança dos clientes. Os recursos serão divididos em três grandes áreas: recuperação de vias, compra de locomotivas e compra de vagões – equipamentos que vão ganhar a cor azul da nova companhia, em substituição ao vermelho. Somente as 64 locomotivas novas (uma novidade, já que ainda é muito comum a importação de equipamentos usados) consumirão quase R$ 1 bilhão, sendo que 40 delas já estão com o contrato de compra assinado com a GE.
A opção pela compra de locomotivas novas, segundo David, traz como vantagens a maior potência (são 50% mais potentes que as atuais) e um sistema de eixos que se adapta às curvas da Serra do Mar. Atualmente, as locomotivas que chegam do interior do estado precisam ser trocadas por outras antes de os comboios descerem a Serra. Essa operação não será necessária com os novos equipamentos.
Negociação
O investimento proposto pela Rumo para depois de 2016 depende das negociações com o governo federal para antecipar a renovação das concessões da empresa, que começam a vencer em 2026. Já houve reuniões entre o governo e as concessionárias de ferrovias e há interesse da União em fechar o acordo, que poderia engrossar o pacote de investimentos em infraestrutura que vai ser anunciado pela presidente Dilma Rousseff.
A Rumo ALL também decidiu renovar sua frota de vagões. Três mil unidades serão compradas até 2020, todas com capacidade maior de transporte e sistema de descarga rápida. Com ciclos menores de carga e descarga, a empresa espera aumentar em 20% a 25% a produtividade da malha. Durante o processo, serão aposentados os vagões mais antigos da frota de 16 mil unidades.
Na via permanente, o investimento (que só até o fim de 2016 será de R$ 177,5 milhões) permitirá a retirada de restrições de velocidade. “Somente na Serra do Mar há uma restrição a cada dois quilômetros”, diz David. “É preciso trocar dormentes, recompor a brita e colocar trilhos novos em vários pontos.” O trabalho até 2020 deve se focar nos 650 quilômetros entre o Norte do estado e Paranaguá.
Obra em Paranaguá vai levar composições de volta ao silo público
A primeira obra dentro do novo plano de investimentos da Rumo ALL está sendo feita no Porto de Paranaguá. A empresa está aplicando R$ 15 milhões na reformulação dos ramais que levam os comboios até os terminais portuários.
A obra significa uma mudança importante na estratégia da companhia, já que contempla também a retomada do ramal que leva até o silo público (conhecido como silão), que não vinha sendo operado pela ALL há cerca de cinco anos.
“Com isso, vamos imediatamente aumentar a capacidade de operação em Paranaguá em 400 mil toneladas por mês”, explica Darlan de David, vice-presidente das operações Sul da Rumo ALL. Segundo ele, o investimento vai permitir que exportadores independentes também contratem o modal ferroviário.
Fusão escancara “abandono” da concessão
A fusão entre Rumo e ALL ocorreu após uma longa disputa entre as companhias. Em 2009, a Rumo assinou um contrato com a ALL em que concordava em investir mais de R$ 1 bilhão na malha em troca da prestação de serviços. Com o tempo, ela passou a acusar a ALL de não fazer as melhorias previstas. A fusão, com o controle da companhia pela Rumo, foi a solução para que a ferrovia saísse da paralisia provocada pela disputa.
O plano de investimento foi um dos compromissos da Rumo durante a fusão, que foi bem vista pelo governo federal, e traz nas entrelinhas críticas à antiga gestão da ALL. Após assumirem a malha ferroviária, os executivos da Rumo encontraram locomotivas e vagões sem manutenção (75% das locomotivas e 80% dos vagões estavam com atraso nas revisões), dezenas de trechos com restrição de velocidade e áreas de manobra tomadas pelo mato e sem drenagem, além de problemas de relacionamento com outros participantes do mercado.
Um exemplo é a relação com a comunidade portuária em Paranaguá. Além de ter deixado de atender o silo público, a ALL não resolveu problemas como a sinalização de passagens de nível (importante para o tráfego de caminhões) e a limpeza de vagões (que leva muita gente a passar os dias em seus pátios recolhendo grãos do chão). Após reuniões em Paranaguá, os executivos da Rumo ALL assumiram compromissos para reduzir os impactos de sua operação na cidade.
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