As notícias chegam muito rapidamente aos investidores, que leem, fazem sua interpretação e partem para o movimento especulativo.
Não é só na vida pessoal que a disseminação de um boato pode causar estragos e problemas. Muito sensível a informações, inclusive as não confirmadas, o mercado financeiro é frequentemente afetado por boatos e rumores, com impacto em ações e câmbio. O caso mais recente ocorreu há duas semanas, quando se espalhou por redes sociais a informação falsa de que o governo confiscaria o saldo da caderneta de poupança, principal modalidade de investimento do país. Têm sido frequentes, também, oscilações da Bolsa em razão de ruídos sobre os resultados e a diretoria da Petrobras.
A orientação para que o investidor não tome decisões precipitadas é ser rigoroso na filtragem das informações que recebe, averiguando a confiabilidade da fonte. “O que mais acontece é a pessoa perder dinheiro porque seguiu o palpite de um conhecido, que não é especialista no tema”, diz o presidente da Senso Corretora, Mario Celso Souza.
Os boatos e o mercado
- Data: 09/01
- Boato: Henrique Meirelles cotado para assumir a presidência da Petrobras
- Efeito: Valorização de quase 3% nas ações da empresa
- Data: 13/02
- Boato: Notícia falsa sobre confisco do valor aplicado na poupança
- Efeito: Temor e insegurança dos investidores que têm recursos aplicados na caderneta
- Data: 27/01
- Boato: Expectativa por resultado ruim no balanço trimestral da Petrobras
- Efeito: Forte oscilação das ações da empresa, com alta de 2% no fechamento
- Data: 30/01
- Boato: Interpretação dúbia de declaração do ministro Joaquim Levy (Fazenda) sobre intervenção do governo no mercado de câmbio
- Efeito: Depreciação do real, com alta diária de 3% do dólar
- Data: 03/02
- Boato: Demissão de Graça Foster, presidente da Petrobras
- Efeito: Valorização de 15% das ações da empresa, a maior em 16 anos
Fica especialmente ameaçado quem opera de casa na Bolsa, o chamado home broker, que nem sempre tem assistência de um analista. O conselho é que ele busque mais informações sobre o assunto, para que diminua as chances de interpretar equivocadamente um fato e ter prejuízo com isso. É preciso, também, cautela ao fechar negócios em momentos de grande excitação do mercado com alguma notícia, já que, em situações assim, os riscos crescem.
Origem dos boatos
A existência de boatos no meio financeiro se explica pela própria natureza do universo acionário, que é movido por uma combinação de informações e apostas. Os operadores do mercado geralmente são vulneráveis a esse tipo de situação, já que trabalham em estado constante de tensão e com altos níveis de incerteza. “Uma sinalização ou informação não oficial que se torna publica gera expectativa e impacta o mercado”, explica Luis Gustavo Pereira, estrategista da Guide Investimentos.
A ocorrência de fenômenos assim tem se tornado mais frequente com a expansão da tecnologia, que acelerou o fluxo global de informações e criou um terreno mais fértil para a disseminação de fatos extraoficiais. “As notícias chegam muito rapidamente aos investidores, que leem, fazem sua interpretação e partem para o movimento especulativo”, explica o corretor Valdinei Trindade Neri, da Uniletra.
Autor de uma tese de doutorado sobre rumores no mercado financeiro, o pesquisador Valdir Martins conclui, no estudo, que a rapidez exigida para o fechamento de negócios na Bovespa é inversamente proporcional ao tempo necessário para a avaliação da exatidão das informações que ali circulam.
Ele também afirma que nem todos os boatos são espontâneos, frutos da dinâmica típica do mercado. Há, também, casos de rumores pré-fabricados, que refletem desejos dissimulados de fontes interessadas em obter ganhos com a notícia “plantada”.
De acordo com Pereira, da Guide Investimentos, as empresas mais conhecidas, como as que formam o Ibovespa, são as mais sujeitas a informações controversas, pois têm mais representatividade no mercado e, em consequência, concentram a atenção e as expectativas dos investidores.
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