China, Rússia e Brasil vão usar a cúpula do G8 desta semana na Itália para defender sua visão de que o mundo precisa começar a procurar uma nova moeda de reserva global como alternativa ao dólar, disseram autoridades nesta terça-feira.
Enquanto líderes do grupo dos oito países mais ricos e as maiores potências em desenvolvimento viajam para a Itália para o encontro de três dias que tem início na quarta-feira, parece improvável que o debate sobre a moeda tenha alguma menção específica nos documentos da cúpula.
Mas tanto a Rússia, membro do G8, quanto o Brasil --potência emergente que, como China e Índia, é integrante do G5-- repetiram os pedidos da China para que um debate sobre a moeda global seja abraçado por líderes mundiais.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que está bastante interessado em explorar "a possibilidade de novas relações comerciais não dependentes do dólar" e a Índia também se colocou aberta à discussão.
Alemanha, França e Canadá, no entanto, descartaram um debate detalhado sobre moeda global na cúpula. Uma fonte do gabinete do presidente da França, Nicolas Sarkozy, disse que o G8 "não é de maneira geral o fórum... para discussão das taxas de câmbio".
O ministro de Finanças da Alemanha, Peer Steinbrueck, afirmou na segunda-feira que o dólar tende a continuar como moeda de reserva global, mas que o iuan e o euro devem ganhar importância aos poucos.
O debate é bastante delicado nos mercados financeiros, que se preocupam com os valores de ativos norte-americanos. China e outros países, apesar de insistirem na discussão, agem com cautela para não derrubar o dólar e Lula disse que a moeda será vital "por décadas".
A China, que detém até 70 por cento de suas reservas de 1,95 trilhão de dólares em moeda norte-americana, ressalta que o dólar ainda é a mais importante moeda de reserva.
Mas o país acredita que uma confiança exagerada no dólar potencializou a crise financeira e vê o Direito Especial de Saque (SDR, na sigla em inglês) do Fundo Monetário Internacional (FMI), baseado em uma cesta de moedas, como alternativa viável para o futuro.
G8 pede ação sobre a pobreza
Com uma Itália ávida por evitar a repetição do tumulto e da brutalidade policial que marcou a reunião do G8 no país em 2001, a segurança era intensa na cidade de L'Aquila, recentemente atingida por um terremoto, onde líderes globais serão hospedados em uma escola de treinamento da polícia.
A polícia prendeu cinco franceses encontrados com instrumentos nocivos em seus veículos e pequenos grupos manifestantes que entraram em conflito com a polícia perto de Roma.
"Nós queremos mais uma vez nos mostrar contrários ao que o G8 representa", disse uma estudante que se identificou como Maria Teresa.
O papa Bento 16 divulgou uma carta para coincider com o encontro do G8, pedindo que os líderes criem regras duras para o sistema financeiro.
Na encíclica, ele clamou por "uma autoridade política mundial verdadeira... para administrar a economia global" e evitar mais "abuso" do livre mercado.
Com nove líderes da África participando da cúpula, os Estados Unidos podem prometer de 3 bilhões a 4 bilhões de dólares para o desenvolvimento agrícola de países pobres. O país quer o apoio de parceiros para que esse comprometimento chegue a 15 bilhões de dólares, de acordo com comunicado preliminar do G8.