O presidente Jair Bolsonaro (PL) se encontrou nesta quarta-feira (16) com o líder russo, Vladimir Putin, em Moscou. Na agenda, conversas sobre comércio, defesa e energia, com destaque para o interesse brasileiro em garantir o fornecimento regular de insumos para fertilizantes.
O Brasil tem déficit na balança comercial com a Rússia: mais importa do que exporta. Em 2021, a Rússia foi o sexto país que mais exportou ao Brasil. As compras de produtos russos mais que dobraram (alta de 107%) em relação a 2020 e chegaram a US$ 5,7 bilhões, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
Desse total, pouco mais de R$ 3,5 bilhões foram em adubos e insumos para fertilizantes. Hulha (um tipo de carvão mineral), com US$ 480 milhões, e óleos de petróleo (US$ 433 milhões) aparecem na sequência da lista.
No sentido oposto, a Rússia foi apenas o 36.° destino das exportações brasileiras em 2021. O Brasil vendeu US$ 1,59 bilhão aos russos no ano, 4,2% a mais que no ano anterior. Os principais produtos vendidos foram soja (US$ 343 milhões), carne de aves (US$ 167 milhões), café (US$ 133 milhões), amendoim não torrado (US$ 130 milhões) e açúcar (US$ 127 milhões).
A visita de Bolsonaro ocorre num momento de tensão nas relações entre russos e ucranianos. Embora a Rússia tenha anunciado na terça-feira a retirada de parte das suas tropas da fronteira, tanto os Estados Unidos quanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) afirmam não ver sinais de que os russos realmente estão recuando.
"Até agora, não vimos nenhum sinal de uma redução da presença militar russa nas fronteiras com a Ucrânia", disse nesta quarta-feira o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg. "Acompanhamos de perto o que faz a Rússia. Constatamos a chegada de tropas e de equipamentos pesados, e da retirada das tropas, mas o armamento continua no local (...) Queremos uma retirada duradoura, não apenas um movimento incessante de tropas", afirmou.
A Ucrânia é apenas o 75.° cliente do Brasil no exterior. Dados da Secex mostram que, em 2021, a venda de produtos brasileiros para o país eslavo somou US$ 226,8 milhões, com alta de 65,3% no ano. Amendoim descascado, minérios de alumínio e açúcares de cana foram os principais produtos vendidos para os ucranianos.
A Ucrânia está em 63.° no ranking das importações brasileiras, mas sua importância vem aumentando. Em 2021, o país vendeu US$ 211 milhões ao Brasil, quase três vezes o valor do ano anterior, com destaque para semimanufaturados de ferro e aço e PVC.
Como a tensão entre Rússia e Ucrânia afeta a economia brasileira
As tensões no Leste Europeu podem ter impacto para a economia brasileira, principalmente se a Rússia invadir a Ucrânia. O principal impacto de um eventual conflito viria pelo aumento do preço do petróleo, que se refletiria em alta na inflação e obrigaria o Banco Central a promover elevações adicionais dos juros.
A Rússia é o terceiro maior produtor mundial de petróleo e o segundo de gás natural. E existem temores de escassez de oferta caso sanções do Ocidente limitem o fornecimento de produto russo.
O conflito poderia levar os preços do barril a US$ 115, segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo. Isso pressionando ainda mais o preço da gasolina, que na média nacional subiu quase 43% em 12 meses até janeiro, segundo o IBGE. No mesmo período, o diesel ficou 46% mais caro.
O preço do petróleo tipo Brent passou de US$ 96 por barril na segunda-feira (14) e na terça (15), com o alívio no cenário externo, recuou a pouco mais de US$ 93. Nesta quarta, porém, o barril voltou a subir e estava cotado acima de US$ 95 por volta do meio-dia.
Outro impacto no Brasil viria dos preços de commodities agrícolas. Eventual conflito entre Rússia e Ucrânia poderia prejudicar a oferta de trigo e milho, jogando ainda mais para cima as cotações desses produtos – os dois países respondem por quase 30% das exportações globais do primeiro e 20% do segundo.
Assim como no caso do petróleo, a alta dos preços agrícolas tende a pressionar ainda mais a inflação brasileira. É prejuízo para o consumidor, mas vantagem para o produtor e investidores.
"Como o setor de energia, os preços agrícolas também são fortemente afetados pelo conflito na região", escrevem analistas da XP Investimentos, em relatório publicado na terça-feira. "Para o Brasil, apesar de um sentimento de risk-off para os mercados, a alta de commodities tende a beneficiar a nossa Bolsa. Quase 40% do índice Ibovespa são de empresas ligadas a commodities – esse é o maior nível dentre as principais Bolsas do mundo todo."
No momento, a corretora vê como mais provável o cenário de "resolução diplomática" da crise.
"O custo de um conflito seria alto, tanto do ponto de vista político quanto econômico – especialmente para os países europeus. Por isso, os países têm liderado uma intensa iniciativa diplomática nas últimas semanas, que tem incentivado os primeiros sinais de alívio das tensões", diz o texto. "Apesar de uma resolução ainda estar longe de ser alcançada, o desejo expresso dos líderes de evitar um conflito amplia as possibilidades de um desfecho diplomático ao imbróglio."
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