As sacolas plásticas que embalam as compras dos paranaenses transformaram o plenarinho da Assembléia Legislativa, ontem pela manhã, no palco de uma "queda de braço" entre deputados e a indústria petroquímica brasileira. Pelo menos cinco importantes petroquímicas (Braskem, Basf, Dow Brasil, Polietilenos União e Petroquímica Triunfo) mandaram representantes a Curitiba para fazer coro contra a adoção no estado da obrigatoriedade das sacolas oxibiodegradáveis, que já vêm sendo usadas por duas grandes redes de supermercado locais.
Há três projetos na Assembléia Legislativa do Paraná, com pequenas variações, propondo a obrigatoriedade da sacola oxibiodegradável, que têm a decomposição acelerada por um aditivo químico. As propostas têm o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e da Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público do Paraná, que consideram o material uma alternativa menos agressiva ao meio ambiente.
O aditivo quebra as moléculas do plástico e promove a aceleração da decomposição do material pela atuação da temperatura, do sol, do vento e de outras variáveis naturais. Isso faz com que, em um período de 6 a 18 meses, o plástico se desintegre e vire pó. O plástico comum, sem o aditivo, demora até 500 anos para se decompor totalmente. O ponto central da discussão é se a transformação do plástico em pó é realmente benéfica para o meio ambiente ou se é mais prejudicial ainda.
O grupo pró sacolas oxibiodegradáveis defende que, transformadas em pó de plástico, as sacolas permitiriam a degradação de seus conteúdos nos aterros sanitários, que deixariam de ficar hermeticamente fechados. "A indústria do plástico é contra, porque produz e fica à parte da cadeia, não atua até o destino final da sacola, que é o lixo. O que nós estamos tentando fazer com as sacolas oxibiodegradáveis é uma solução de convivência com o plástico, porque o ideal seria banir o uso dele", afirma o secretário estadual do Meio Ambiente, Lindsley Rasca Rodrigues. A estimativa é de que, a cada mês, as grandes redes de supermercado gerem um passivo ambiental de 80 milhões de sacolas no Paraná.
Desperdício
Encabeçadas pelo Instituto Plastivida, braço sócio-ambiental da indústria de plástico no Brasil, as petroquímicas argumentam que o plástico em pó poderia gerar contaminação do lençol freático e seria um desperdício de reciclagem e de energia. "A energia contida no plástico é comparável a do diesel e da gasolina. Se ele virar pó, não poderá ser aproveitado", afirma o presidente da Plastivida, Franciso de Assis Esmeraldo.
A delegação contra o oxibiodegradável incluía também representantes de universidades de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que disseram não haver garantias de que a troca pela sacola feita com o aditivo não vai ser uma mudança para pior. "Fizemos testes de biodegradação e compostagem com o material oxibiodegradável e concluímos que ele realmente se degrada mais rápido, libera odor forte e metais pesados, como cobalto, que pode ser cancerígeno", diz a coordenadora do escritório de inovação tecnológica da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), Kelly Bruch. A universidade, que tem sede em Canoas, no Rio Grande do Sul, teve o patrocínio da Braskem em suas pesquisas.
A união de forças da indústria petroquímica contra as sacolas oxibiodegradáveis se deve à preocupação com uma solução mais definitiva para o meio ambiente, garante Antônio Marschbacker, responsável pelo estudo de polímeros biodegradáveis do Centro de Tecnologia da Braskem. "Achamos que é um risco implantar este modelo e depois perceber que foi um erro. Existem alternativas que são realmente biodegradáveis, mas são mais caras e que o varejo não quer", diz ele.
Para o secretário do Meio Ambiente do Paraná, o que está em jogo, para a indústria, é o futuro do plástico no Brasil. "Este tipo de medida é início de um movimento para mudar toda a cadeia do plástico, vai se ampliar para todo o tipo de embalagem. Eles vão perder mercado", diz. O aditivo representa 1% da composição da sacola oxibiodegradável e aumenta de 6 a 12% o custo da embalagem.