"Pisada na bola"
O presidente Lula acusou as empresas que tiveram prejuízo com operações de alavancagem por meio do câmbio, como a Sadia, de especulação contra a moeda brasileira.
Tive oportunidade de estar com o presidente Lula e lembrei a ele que foi infeliz nessa colocação porque quem especulou contra o Brasil foi justamente o lado que está ganhando dinheiro com a turbulência. Quem especulou a favor do Brasil, acreditando na estabilidade, acreditando que a taxa de câmbio ia continuar no nível histórico, e que acreditou, inclusive, no que o presidente falou de que a crise estava lá fora, é que "levou ferro". Não fiz crítica a ele, disse simplesmente que achava que ele estava mal informado. E estava nas vésperas das eleições. Às vezes, a pessoa se anima num comício e sai alguma "pisadinha de bola".
O senhor acha que a Sadia se precipitou em ser a primeira a mostrar o prejuízo ao mercado?
Acho que não. Tivemos coragem de mostrar para o mercado que tinha um problema e publicar um fato relevante, de reconhecer e de tomar providências para corrigir. Neste momento nossa energia toda vai para fazer bem o que sabemos fazer, que é produzir, industrializar, vender, exportar, qualidade.
O assessor da presidência, Marco Aurélio Garcia, disse que o governo federal vai ajudar as empresas. A Sadia vai pedir ajuda?
Não.
Em razão da crise, vai haver mudança nos planos de investimento?
Para o ano que vem, nós vamos ter que reestudar. Nós e todo mundo. Falei com uma dúzia de presidentes de empresas. Todo mundo está olhando para a frente de uma forma mais cautelosa.
Há pouco mais de uma semana de volta à presidência do Conselho de Administração da Sadia, o ex-ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, anunciou ontem, durante inauguração de uma fábrica em Toledo, região Oeste do estado, que vai revisar o plano de investimento da companhia para 2009. A medida será uma tentativa de amenizar o prejuízo de R$ 760 milhões que a empresa sofreu com operações no mercado de câmbio. "Não seremos os únicos a fazer isso. Todas as empresas seguirão o mesmo caminho", explicou.
Furlan antecipou que a primeira ação concreta será a suspensão, pelo menos temporariamente, de investimentos em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, onde estava prevista a construção de uma unidade de industrializados, um projeto de R$ 150 milhões de reais. "Esse investimento vai ser transferido", disse.
"O momento é de serenidade. Precisamos recuperar a confiança dos investidores e fazer bem o que sabemos fazer, que é produzir", disse Furlan. No próximo dia 3 de novembro, a empresa fará uma assembléia de acionistas para apresentar o resultado das investigações que estão sendo feitas sobre as operações financeiras que levaram ao rombo histórico.
Falha
Luiz Fernando Furlan disse que nunca viu um comportamento do mercado financeiro como o atual, com uma volatilidade "tão grande". "O que houve não foi um erro de política empresarial, mas sim uma falha de execução. Algumas pessoas podem ter ultrapassado os limites para correr riscos exagerados". Para se ter idéia, revelou Furlan, em apenas cinco dias foram feitas "chamadas de caixa" que atingiram US$ 500 milhões e todo o prejuízo se concentrou em apenas oito ou dez dias. "Contratamos uma auditoria e estamos verificando se houve conivência dos bancos". A empresa, segundo ele, já está negociando os valores da dívida.
Inauguração
A fábrica da Sadia em Toledo foi reconstruída e ampliada após um incêndio em 2006. O investimento no local foi de R$ 206 milhões. A capacidade de produção da unidade é de 70 mil toneladas ao ano de industrializados de frango e suínos, que serão exportados para a América do Sul, Europa, Oriente Médio e Japão. São 600 funcionários, o que eleva o número de empregos gerados pela Sadia para 18,5 mil, somente no Paraná.
Segundo Luiz Fernando Furlan, a revisão do plano de investimento para 2009 não interfere nos projetos previstos para o Brasil. A empresa que possui 15 unidades no país está ampliando outras quatro e construindo duas novas, em Vitória de Santo Antão (PE) e Lucas do Rio Verde (MT). A Sadia possui ainda unidades na Holanda e Rússia.
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