Argentina ameaça montadoras
Cerca de 60% das exportações de veículos e autopeças do Paraná vão para a Argentina. Isso dá uma ideia do transtorno que as barreiras comerciais do país vizinho podem causar à indústria automotiva paranaense neste ano.
As exportações do setor à Argentina deram um salto de quase 60% no primeiro semestre de 2012. Mas depois passaram a regredir: na segunda metade do ano, caíram 30% em relação a igual período de 2011. E, por enquanto, não há sinal de reversão nessa tendência.
Dessa forma, os resultados da cadeia automotiva paranaense devem ficar mais dependentes da demanda de outros países latino-americanos, como Peru, Chile e Colômbia, que em 2012 elevaram consideravelmente as importações de veículos e peças do estado. Um caso quase perdido é o do México, que ano a ano importa menos do Brasil e do Paraná.
Renault
Outra ameaça para as vendas externas de 2013 está na paralisação da Renault. Principal exportadora paranaense do setor, ela está reformando sua fábrica, em São José dos Pinhais, e só retoma as atividades no mês que vem. E, quando voltar, provavelmente dará prioridade ao mercado doméstico, no qual deve perder terreno neste início do ano.
As projeções não chegam a inspirar euforia, mas sugerem que este ano será um pouco melhor para as exportações do Paraná, que fecharam 2012 com um tímido crescimento de 2%. Há incertezas em relação ao setor automotivo, à indústria de carnes e à Argentina. Em compensação, o clima propício tem permitido aos agricultores sonhar com uma safra recorde de grãos, e a taxa de câmbio um pouco mais favorável tende a dar algum sustento às vendas de industrializados.
INFOGRÁFICO: Veja quais foram os principais produtos exportados pelo Paraná
O maior impulso deve vir da soja, responsável por um quinto das receitas de exportação do estado. Depois da quebra na safra 2011/12, a produção paranaense deve crescer quase 40%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). "Apesar do aumento na oferta mundial, as cotações devem ficar próximas dos bons níveis dos últimos anos", avalia Gílson Martins, assessor técnico-econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). O suporte vem da demanda, que não dá sinais de cansaço: a Conab prevê que as importações chinesas vão crescer de 7% a 10% em 2013.
Para o complexo carnes, "dono" de US$ 12 em cada US$ 100 exportados pelo Paraná no ano passado, o cenário é nebuloso. A demanda global está mais contida, o que em 2012 fez baixar o preço médio e, em alguns casos, a quantidade exportada.
Os embargos à carne bovina terão pouco efeito neste ano o estado quase não exporta o produto. Mais relevante será o comportamento das vendas de frango, responsável por 85% das exportações do complexo carnes. Para Domingos Martins, presidente do Sindiavipar (representante da indústria avícola), o Paraná pode se beneficiar de dois movimentos: a busca por novos mercados e a entrada de novos exportadores, como a cooperativa Cocari, que abriu um frigorífico há três meses.
A expectativa da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) é boa: ela prevê aumento de 6% nos embarques brasileiros de carne de frango, o que se refletiria no Paraná, principal exportador. Por outro lado, a AEB projeta mais um ano de enfraquecimento nas cotações do açúcar, o que afetaria as receitas paranaenses com o produto que em 2012 já caíram 4%.
Indústria
As exportações da indústria do Paraná ainda não se recuperaram por completo do tombo de 2009, mas crescem desde então. Pouco, mas crescem: em 2012, os embarques de manufaturados avançaram 4%. Se o dólar continuar entre R$ 2 e R$ 2,10, a tendência é de nova expansão novamente moderada em 2013, avalia o economista Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep): "Esse câmbio resgata um pouco da competitividade. O resultado ligeiramente positivo de 2012 já foi um sinal disso".
Milho impediu queda em 2012
O Paraná aumentou suas exportações pelo terceiro ano seguido, mas desta vez o crescimento foi bem mais modesto. Depois de avançar 26% em 2010 e 23% no ano seguinte, em 2012 as vendas do estado para outros países subiram apenas 2% e não teriam crescido se não fosse o resultado recorde das vendas de milho.
Normalmente o cereal tem pouca relevância na pauta de exportações, porque a maior parte da produção costuma ser negociada no mercado interno. Mas no ano passado a quebra da safra norte-americana e os baixos estoques na Argentina aumentaram o apetite dos importadores pelo milho brasileiro.
Estimulados pela valorização do dólar, os agricultores não hesitaram em exportar: em 2012 cerca de 4,2 milhões de toneladas do grão deixaram o Paraná em direção ao exterior, quase o triplo do volume embarcado na temporada anterior. De um ano para outro, as receitas saltaram de US$ 445 milhões para US$ 1,13 bilhão.
Na soma de todos os produtos, o Paraná exportou US$ 17,7 bilhões no ano passado, cerca de US$ 300 milhões a mais que em 2011. Se os números do milho fossem excluídos das contas, o faturamento do estado teria diminuído 2%.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast