Brasília Anunciada quinta-feira à noite, a saída do diretor de Política Econômica do Banco Central, Afonso Bevilaqua, identificado como o mentor do viés ortodoxo na diretoria do BC, pode sinalizar um momento de maior flexibilização na política do segundo mandato.
Apesar de a troca de Bevilaqua pelo diretor de Assuntos Especiais, Mário Mesquita, ser, nesse primeiro momento, a troca de seis por meia dúzia, a mudança na diretoria é também considerada como uma possibilidade de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentar convencer Lula a colocar no BC um economista que possa fazer o contraponto à ortodoxia que prevaleceu no primeiro mandato.
A sua opção seria transferir Demian Fiocca do BNDES para o BC. Essa alternativa pode ser um desejo de Mantega, mas com poucas chances de se efetivar, segundo informou um ministro à Agência Estado. "O Fiocca só vai amarrado", disse. Ontem à noite, fontes do governo ponderaram para a necessidade de se esperar um pouco pelo desfecho da movimentação na diretoria do BC.
Outras novidades estariam sendo gestadas por Henrique Meirelles, sem, no entanto, significar a abertura das portas do BC a um corpo estranho à diretoria atual.
Segundo essas fontes, Meirelles estaria estudando uma reestruturação das diretorias com a fusão não apenas da de Política Econômica com a de Estudos Especiais. Ou seja, se as mudanças forem efetivadas, outro diretor poderá deixar o BC.
Nesse momento, no entanto, o presidente do BC não pode confirmar as trocas de cadeira. Isso só acontecerá se e quando, segundo fontes do governo, o presidente Lula confirmar que Meirelles é, de fato, o presidente do BC no segundo mandato. "As declarações do presidente foram um sinal de permanência da equipe, mas ele tem que oficializar seu novo ministério", comentou um ministro.
Constrangimento
Embora o afastamento de Bevilaqua estimule os boatos de afrouxamento da política monetária, numa realimentação do fogo amigo, um dos momentos públicos de maior constrangimento vivido por Meirelles foi sua passagem esta semana pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), no Senado.
Na ocasião, o presidente da CAE, senador Aloízio Mercadante (PT-SP), patrocinou a mais severa crítica ao conservadorismo do BC. Ele condenou a lentidão do Banco em reduzir as taxas de juros e a decisão de reforçar as reservas cambiais do país.
As críticas de Mercadante aconteceram no mesmo dia em que um tombo de mais de 8% da Bolsa de Xangai arrastou as bolsas de valores dos principais centros financeiros no mundo. No Brasil, a Bovespa caiu mais de 6%. Na sua exposição, Meirelles exemplificou o momento de volatilidade do mercado internacional para justificar uma atitude de "prudência" na condução da política econômica.