Salário mínimo de 2021 deve ser maior que o previsto pelo governo na última versão da Lei de Diretrizes Orçamentárias.| Foto: Antônio More/Arquivo/Gazeta do Povo
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O salário mínimo de 2021 tende a ser maior do que o governo federal está prevendo – ao menos se as contas do mercado financeiro estiverem corretas. O motivo está na aceleração da inflação, fenômeno que, ao que parece, não foi inteiramente capturado na mais recente estimativa do Ministério da Economia.

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Com esse descompasso, em vez de subir dos atuais R$ 1.045 para R$ 1.088, como prevê o governo, o piso salarial do próximo ano pode chegar a R$ 1.093 ou até R$ 1.096, a depender da projeção escolhida. A diferença pode ser pequena para o trabalhador – de R$ 5 ou R$ 8 a mais por mês, conforme o caso –, mas é muito significativa para as contas públicas.

Como o salário mínimo serve de piso para uma série de benefícios pagos pelo governo – como aposentadorias e pensões do INSS, BPC, seguro-desemprego e abono salarial –, alguns reais a mais no bolso do assalariado representam bilhões de reais a menos nos cofres da União. A despesa adicional em 2021 pode variar de R$ 3,9 bilhões a R$ 5,7 bilhões, dependendo do caso. Esse último valor seria suficiente para pagar quase dois meses de Bolsa Família.

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Salário mínimo será reajustado pela inflação, como manda a Constituição

O governo pretende cumprir à risca o que diz a Constituição e repassar ao salário mínimo a variação da inflação medida pelo INPC, índice calculado pelo IBGE que busca refletir o custo de vida das famílias com renda de até cinco salários mínimos.

O repasse será feito com base em uma estimativa para o INPC de dezembro, já que o dado oficial do mês (e, portanto, do acumulado de 2020) só será divulgado pelo IBGE em 12 de janeiro de 2021, depois que o novo valor do salário mínimo já tiver entrado em vigor – tradicionalmente, o presidente assina um decreto para isso já em 1.º de janeiro.

Caso haja uma diferença entre a taxa esperada e a efetiva, o governo poderá então fazer uma nova atualização. Foi o que ocorreu no começo de 2020. O salário mínimo começou o ano em R$ 1.039, mas, depois que a inflação de dezembro de 2019 foi revelada (e com taxa acima da esperada), o piso salarial passou a R$ 1.045 em fevereiro. Algo semelhante pode acontecer no início de 2021.

Mercado prevê inflação mais alta que a projetada pelo governo

Em agosto, quando enviou ao Congresso a Lei Orçamentária Anual (LOA), o governo projetou um salário mínimo de R$ 1.067 em 2021. Naquela época, o governo projetava um INPC de 2,1% em 2020.

Agora, em dezembro, o governo pediu uma modificação na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), revisando a estimativa do INPC para 4,1% e programando, assim, um salário mínimo de R$ 1.088.

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Porém, bancos e consultorias consultados pelo Banco Central esperam que o INPC fique um tanto acima disso. Isso fica explícito em dois tipos de estimativa registrados no boletim Focus.

Um deles é a expectativa dos economistas para o INPC acumulado no ano de 2020. Ela vem sendo reajustada há várias semanas, e agora a mediana das previsões está em 4,61% – 0,51 ponto porcentual acima da aposta do governo. Se essa taxa for aplicada ao salário mínimo, resultará num piso salarial de aproximadamente R$ 1.093.

Outra forma de estimar a inflação de 2020 é observar o que os economistas preveem para o INPC de dezembro. A mediana indica uma taxa de 0,88% no mês, que, somada à inflação acumulada entre janeiro e novembro, levaria a um índice de 4,84% na soma dos 12 meses de 2020 – isto é, 0,74 ponto porcentual além do estimado pelo Ministério da Economia. Caso esse prognóstico esteja correto, o salário mínimo teria que chegar a R$ 1.096 em 2021.

O INPC acumulado em 12 meses até novembro é de 5,2%. Mas, como a expectativa do mercado é de que a inflação deste mês seja um pouco menor que a apurada em dezembro de 2019, esse índice acumulado tende a baixar na passagem de novembro para dezembro.

O impacto do salário mínimo nas contas públicas de 2021

Segundo uma estimativa do Tesouro Nacional, cada 0,1 ponto porcentual a mais no INPC repassado ao salário mínimo representa um acréscimo de despesa de aproximadamente R$ 768 milhões por ano para o governo federal.

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Assim, se o INPC ficar 0,51 ponto porcentual mais alto do que o governo prevê, o gasto adicional será de R$ 3,9 bilhões. Se o excedente chegar a 0,74 ponto porcentual, a despesa extra será de quase R$ 5,7 bilhões.

Qualquer desses valores seria mais do que suficiente, por exemplo, para bancar um 13.º benefício do Bolsa Família. Esse abono custaria em torno de R$ 2,9 bilhões, a julgar pelo orçamento de 12 meses do programa social em 2021 (R$ 34,9 bilhões).

Como o pagamento de aposentadorias, pensões, BPC, seguro-desemprego e abono salarial é despesa obrigatória, o governo precisará reduzir o orçamento de outras ações – investimentos ou gastos de custeio, por exemplo – para não violar o teto de gastos.