Quem não conhece alguém que largou tudo para estudar e prestar concurso? Atraídos pela estabilidade e por salários interessantes, muitos profissionais decidem apostar tudo para entrar no setor público. O problema é passar nas provas. Além de concorridíssimos, os concursos são difíceis, especialmente os que oferecem maiores benefícios, como a disputada seleção para auditor da Receita Federal, que tem salário inicial de R$ 7,5 mil.
Antes de entrar nessa, é importante considerar o tamanho do investimento. De acordo com professores de cursos preparatórios e pessoas recém-aprovadas, o tempo de preparo vai de três a quatro meses para cargos que exigem nível médio, com custo médio entre R$ 400 e R$ 700. Já para cargos de nível superior o estudante precisa despender de R$ 1,2 mil a R$ 12 mil, com um preparo que vai geralmente de um ano a um ano e meio. "Os concursos para auditor da Receita ou do INSS exigem uma preparação de no mínimo um ano, enquanto nos concursos para técnico do Banco do Brasil ou da Caixa Econômica Federal o tempo é de cerca de três meses", diz o professor João Viana, diretor do curso preparatório Solução, de Curitiba.
A diferença no tempo e no investimento necessários se deve à natureza dos cargos e aos salários que oferecem. Enquanto os de nível médio exigem menos conhecimentos do candidato e prometem vencimentos na ordem de R$ 1 mil, os de nível superior pedem conteúdo extenso, mas recompensam os aprovados com salários que começam em R$ 6 mil.
Ou seja, o negócio compensa. Mesmo quem gastar mais de R$ 10 mil em cursos e livros vai receber o valor de volta em poucos meses de trabalho. "Mas a pessoa tem que estudar no fim de semana e em feriados e ainda fazer simulados e testes", alerta Viana.
Alguns se empenham tanto que largam lazer, tempo com a família e até o trabalho para se dedicar. Para quem não está disposto a fazer isso, o jeito é estudar aos poucos até se sentir seguro, como orienta Sérgio Altenfelter, professor e sócio do curso Aprovação, também de Curitiba. "Eu recomendo que a pessoa estude durante um ano de forma extensiva, fazendo duas ou três matérias básicas. Depois, se o concurso sair, pode decidir largar o trabalho", diz. Ele lembra que é importante pesquisar a rotina de trabalho antes de escolher o concurso a prestar.
Com o objetivo definido, basta ler o edital do último concurso para ver o que foi pedido. Para o professor Venícius Telles, diretor-geral do preparatório CEC, de Curitiba, não é impossível estudar sozinho e ser aprovado, mas é muito mais difícil e demorado. "O conteúdo muda bastante, como a legislação o curso é bom para que o candidato esteja bem atualizado", explica.
Só que não adianta apelar para a "decoreba", até porque o conteúdo exigido pelo concurso público vai ser necessário ao profissional aprovado em sua nova função. Quem diz isso é o professor Ernani Pimentel, um pioneiro do ensino em preparatórios para concurso público, no ramo há 60 anos, fundador da editora especializada em livros sobre o tema, a Vestcon, que publica o guia "Como Passar em Provas e Concursos", de autoria do guru William Douglas. "Você não consegue manusear aquilo que não entende. Decorar é uma coisa, mas entender é outra", sentencia.