O ex-secretário especial de desestatização e desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar, escreveu longo texto sobre sua saída do governo de Jair Bolsonaro no Brazil Journal. Apesar do desembarque da equipe econômica de Paulo Guedes, Mattar ressaltou que continua apoiando suas pautas, mas que decidiu sair porque a conta entre esforço dispendido e resultado obtido era negativa.
Empresário liberal, Mattar também mencionou sobre os liberais "de fora" que passaram a fazer parte do governo nesta gestão e como a tese de reduzir o tamanho do estado para desonerar o cidadão é aplaudida, mas pouco apoiada.
"Os 'de fora' são passageiros e algum dia irão embora, enquanto os membros do aparelho do Estado se perpetuarão, logo, têm que preservar aquele establishment. Os liberais 'de fora' que vieram para o governo cabem num micro-ônibus e são vistos como pessoas bem intencionadas, cheias de novas ideias, sonhadoras e inexperientes que querem mudar tudo", escreveu.
Ao longo de 19 meses como servidor, Mattar disse ter entendido como a lógica do governo é diferente da iniciativa privada, nem melhor, nem pior. "No governo procura-se defender o estado, enquanto o correto seria defender o cidadão. (...) Se no mundo dos negócios a orientação é mudar para melhorar, no governo é permanecer as coisas como são para manter do jeito que estão", argumentou.
Embora reconheça que teve apoio tanto de Guedes quanto de Bolsonaro, Mattar criticou o desenho de sua secretaria, que ficou com atribuições, mas sem o respaldo legal para as execuções. "Os grupos de interesse, absolutamente legítimos e naturais em uma democracia, dificultam o processo de desestatização", escreveu. Ele citou como pertencentes ao establishment que funciona como barreira natural para a privatização empregados públicos, sindicatos, fornecedores, comunidades, políticos locais, partidos de esquerda e lideranças políticas.
Ele ainda fez um balanço de sua gestão e citou a realização de R$ 150 bilhões em desestatização e desinvestimentos, o que reduziu o número em 84 empresas. Também mencionou os trabalhos no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e Programa Nacional de Desestatização (PND), em que 14 de 46 estatais já estão com encaminhamento para processos de privatização.
"Diferentemente do que se propagava, o Brasil não tinha apenas 134 empresas, número este que nos foi informado no período de transição de governo. Iniciamos uma análise mais detida e encontramos 698 empresas entre as de controle direto, suas subsidiárias, coligadas e com simples participações. O estado-empresário é gigantesco e não quer ser amputado", criticou.
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