Os serviços, especialmente aqueles cujos preços subiram bem acima da inflação nos últimos 12 meses, foram alvo dos empreendedores para o início de novos negócios. Entre os dez segmentos que registraram maior número de abertura de empresas no 1º semestre deste ano, nove são voltados genuinamente para a prestação de serviços, revela levantamento feito pela Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) a pedido do jornal 'O Estado de S. Paulo'.
Foram abertos entre janeiro e junho deste ano no Estado de São Paulo 8.176 salões de cabeleireiros, 4.300 empresas de prestação de serviços de pedreiro, 3.991 de serviços de estética corporal, 3.546 lanchonetes e 2.791 companhias de prestação de serviços de eletricista, levando-se em conta o total de empresas em todas as formas jurídicas.
Coincidentemente, os preços dos serviços prestados nesses segmentos estão entre os que mais subiram e superaram a inflação. Entre julho do ano passado e junho deste ano, o Índice de Preço ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que mede a inflação na cidade de São Paulo, teve alta de 4,41%.
No mesmo período, os preços cobrados pelos salões de cabeleireiros e empresas que prestam serviços de eletricistas cresceram num ritmo que foi o dobro do aumento do IPC. Os serviços de cabeleireiro ficaram 8,89% mais caros e os de eletricista, 8,48%. No caso do lanche e dos serviços de pedreiro as altas de preços em 12 meses foram ainda maiores, de 19,34% e de 12,56%, respectivamente.
"A maioria das empresas abertas neste semestre é prestadora de serviços porque são negócios que exigem menos investimento inicial. A indústria requer mais capital", afirma o presidente da Jucesp, José Constantino de Bastos Jr. O total de empresas abertas no 1.º semestre no Estado foi de 274.901, número 27,5% maior ante igual período de 2011. Grande parte desse crescimento foi impulsionada pelos microempreendedores individuais. Tanto é que nessa categoria houve acréscimo de 63% no número de empresas no semestre.
Muitos desses novos empreendedores já trabalhavam informalmente e se formalizaram, destaca Bastos Jr. Ele diz não acreditar que os novos empresários teriam sido atraídos para o setor de serviços pelos preços elevados. Mas o fato é que, por não enfrentar concorrência estrangeira, fica mais fácil para os prestadores de serviços repassar os aumentos de custos para os preços, observa o economista do Itaú Unibanco, Caio Megale. "Por isso, a inflação dos serviços é bem mais alta que a inflação geral. Esses setores vão bem, principalmente os serviços relacionados com os gargalos do crescimento, como pedreiros", exemplifica o economista.
Procura
De toda forma, atraídos pela forte demanda, parte dos empreendedores se aventurou num novo negócio, especialmente no caso dos cabeleireiros. "Salão de cabeleireiro hoje é como o bar de antigamente, há um em cada esquina", compara o presidente do Sindicato dos Institutos de Beleza e Cabeleireiros de Senhoras do Estado de São Paulo, Marcos Tadeu Meciano.
Ele diz que a multiplicação dos salões, que no Estado de São Paulo já somam mais de 50 mil, está ligada ao crescimento da área de beleza. "Os homens estão frequentando mais salão de beleza, assim como as pessoas de menor renda, das classes C, D e E."
Nas contas do Departamento Econômico do Itaú Unibanco, cerca de 15 milhões de pessoas vão ascender para as classes C, B e A, entre 2011 e 2014. São pessoas com baixo nível de endividamento, que vão sustentar a demanda por serviços.
No caso dos serviços de beleza, além do aumento da procura, Meciano aponta outros dois fatores para a proliferação dos salões de beleza: a grande oferta de profissionais que não conseguem uma vaga e abrem o próprio negócio, e a facilidade de formalização das empresas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.