Produto precisa de preço baixo e mais qualidade
Proprietários de importadoras, donos de restaurantes e sommelieres são unânimes em afirmar que a medida para aumentar a participação da produção nacional no mercado consumidor passa pela melhoria da produção, e não por medidas burocráticas. De acordo com os profissionais que comercializam a bebida, o produto brasileiro ainda é de qualidade questionável.
"No mundo devem existir uns 50 mil rótulos, e o Brasil não tem 50 de boa qualidade. Os gaúchos não podem ficar fazendo suco de uva com álcool. O produto nacional tem de melhorar", diz Junior Durski, proprietário do Durski e da rede de restaurantes Madero. Ele cita como exemplo os espumantes brasileiros, que ganharam qualidade internacional e se transformaram em referência após anos de investimentos e pesquisas "Hoje é preferível tomar um espumante nacional a um português", complementa.
O sommelier Ronaldo Bohnenstengel, do Vin Bistrô, sabe que o preço do vinho influencia bastante a decisão do consumidor, e por isso sugere a redução de imposto para o produto nacional.
Pedido não inclui aumento de impostos
Diante da série de manifestações contrárias e abaixo-assinados que surgiram nas mídias sociais, a Ibravin, a Fecovinho, a União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e o Sindicato da Indústria do Vinho do Rio Grande do Sul (Sindivinho) se apressaram em esclarecer alguns pontos da salvaguarda. Em nota, as quatro entidades à frente do pedido ressaltaram que não faz parte da medida qualquer aumento de impostos para os vinhos importados.
"O que há é uma grande desinformação. Não pedimos aumento da taxa de importação. Isso é uma série de mentiras contadas pelos importadores", afirma Carlos Raimundo Pavini, diretor da Ibravin.
De acordo com o documento, o que existe é o pedido para equalizar o Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), que vai de 12% a 30% sobre o vinho, dependendo do estado.
Outra informação incorreta, segundo as entidades, é a de que a cota de importação limitaria o número de rótulos. "A cota vai limitar o volume de importação, não o número de rótulos. Existe uma falta de clareza sobre o que é uma salvaguarda", diz Hélio Marchioro, executivo do Fecovinho.
A medida de salvaguarda contra vinhos importados, reivindicada por entidades do setor vitivinícola e publicada no dia 15 de março, provocou uma reação que ameaça a imagem dos vinhos finos brasileiros no próprio território nacional. Após a proposta de cotas para importação da bebida, diversos restaurantes, inclusive em Curitiba, estão retirando de suas cartas os poucos rótulos nacionais oferecidos.
Em repúdio à proposta de criação de cotas, o proprietário do Durski e da rede de restaurantes Madero, Junior Durski, retirou os 50 rótulos nacionais de sua carta de vinhos, que tem mais de 2,5 títulos e foi premiada duas vezes como a melhor do Brasil pelo Guia Quatro Rodas. "Essa medida é ultrapassada e antiga. A adoção seria como voltar para o período antes do Collor, quando as importações eram proibidas", justifica. O boicote foi idealizado pela chef Roberta Sudback, que tem um restaurante no Rio de Janeiro, e contou com a adesão de chefs renomados como Alex Atala.
O sommelier Ronaldo Bohnenstengel, do Vin Bistrô, apesar de considerar a salvaguarda imprópria, não cortará os vinhos das vinícolas que assinaram o pedido. "Não vejo necessidade de boicote. O mercado nacional já oferece poucas opções de bons vinhos e todos com preço muito acima dos importados", diz.
Participação
A norma protecionista tem como objetivo principal elevar a participação do produto nacional no mercado consumidor. De acordo com as entidades do setor, a adoção da salvaguarda permitirá, dentro de três anos período de vigência da medida , que os rótulos nacionais voltem a cair no gosto do consumidor e cheguem a 35% do mercado.
"Em países como Estados Unidos e Alemanha, os rótulos nacionais são metade dos vinhos comercializados. Temos de buscar mercado para que o Brasil não se transforme apenas em importador", aponta Carlos Pavini, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), uma das entidades à frente do pedido protecionista.
No ano passado, os vinhos finos brasileiros representaram 21,3% dos 91,9 milhões de litros comercializados no país. No primeiro bimestre deste ano, a participação dos rótulos nacionais no mercado consumidor caiu para 11%, enquanto a entrada de vinhos estrangeiros cresceu 35%. "Hoje o vinho importado entra a qualquer preço e quantidade. É preciso fechar a porteira", afirma Hélio Marchioro, diretor-executivo da Federação das Cooperativas do Vinho (Fecovinho).
Apesar do discurso de proteção, proprietários de restaurantes e importadoras veem a medida com grande desconfiança. Para eles, a estratégia das entidades para conquistar mercado está equivocada. "Essa é uma guerra perdida. A salvaguarda não vai mudar o consumidor", diz o diretor comercial da importadora Porto a Porto, Alceu Bobbto.
Colaborou Flávia Schiochet.
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