A imposição de sanções comerciais contra os Estados Unidos, que ganhou corpo na semana passada com a divulgação de uma lista com 102 produtos que serão sobretaxados entre eles veículos, cosméticos, trigo e frutas , acabou se confundindo com outras manifestações da tendência "esquerdizante" da política externa brasileira. Foi também na semana passada que o presidente Lula fez uma declaração que desqualificou os oposicionistas que fazem greve de fome em Cuba, por exemplo. Para a professora de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Cristina Pecequilo, porém, é preciso separar os assuntos. "As disputas comerciais envolvendo o Brasil vêm desde o governo Fernando Henrique Cardoso e não têm a ver com um viés à esquerda", diz. "O Brasil ganhou em um órgão multilateral o direito de obter uma compensação, está coberto legalmente pela OMC."
A aplicação das medidas contra os EUA também reforça a eficiência da Organização Mundial do Comércio (OMC) como órgão para resolver controvérsias no comércio internacional. "Os EUA têm consciência de que se submeteram à OMC e que podem sofrer quando infringem suas regras. É algo que não deve afetar a relação diplomática dos dois países no longo prazo", opina o especialista em direito internacional Eduardo Saldanha. O risco de sofrer retaliações é assumido também pelo Brasil, que já teve suas práticas comerciais investigadas em 14 processos na OMC. Há uma década, o país perdeu uma disputa contra o Canadá, que questionou o programa de financiamento de exportações de aeronaves da Embraer. O caso não chegou às sanções porque em seguida o Brasil venceu uma discussão sobre subsídios canadenses no mesmo segmento.