A oferta de ações que movimentou quase R$ 2 bilhões em dezembro e a perspectiva de mudança na regulação tarifária transformaram a Sanepar em “queridinha” da Bolsa de Valores. Mas ela corre o risco de perder popularidade entre seus clientes, pois a mesma revisão que anima os investidores deve encarecer a conta de água e esgoto.
Os papéis da empresa subiram quase 40% desde o chamado “re-IPO”. A operação também aumentou a liquidez, isto é, a facilidade de comprar e vender ações. Até alguns meses atrás, era raro o dia em que mais de 200 mil ações da Sanepar trocavam de mãos. A movimentação equivalia a menos de 0,5% do volume diário movimentado pelas preferenciais da Petrobras. Agora, o volume médio de negócios é de 3,5 milhões de ações por dia, ou 12% do fluxo das ações da Petrobras.
Veja também: Quem vendeu e quem comprou ações da Sanepar
Conta de água pode subir 26% no Paraná, estima BTG Pactual
Aumento está ligado a novo modelo tarifário da Sanepar, que deve ser implantado em abril. Para banco de investimentos, eventual reajuste será parcelado
Leia a matéria completaO mercado cresceu o olho. Na semana passada, o BTG Pactual anunciou a seus clientes o início do acompanhamento das ações da Sanepar. Elegeu a paranaense sua empresa de água e esgoto favorita, e uma das principais escolhas no setor de “utilities”, que também abrange companhias de eletricidade, gás e outras.
Para o banco de investimentos, o preço-alvo das ações é R$ 19. Ele ainda vê espaço, portanto, para uma valorização de quase 45% sobre a cotação atual (R$ 13,13). E talvez mais, se a mudança no cálculo da tarifa de água e esgoto ocorrer dentro do prazo (até abril) e resultar no reajuste estimado pelo BTG (de 26%).
“Caso a revisão tarifária seja aprovada em linha com os números preliminares indicados pela companhia e sem atrasos, então removeríamos o prêmio de risco e o preço-alvo poderia chegar a R$ 25”, afirmam os analistas do banco, em relatório. Se a revisão “nunca acontecer”, dizem eles, o preço-alvo cairá para R$ 12.
A Eleven Financial Research, que hoje vê um preço-alvo de R$ 14 para as ações, deve revisá-lo após a divulgação do balanço de 2016. “Provavelmente vai para R$ 17 ou R$ 18”, diz o analista Raul Grego. “A Sanepar tem uma das melhores margens Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] do setor, menor dívida líquida em relação ao Ebitda, melhor retorno sobre o patrimônio e melhor pagamento de dividendos”, observa.
Dominó de saída
Após a operação de dezembro, o governo estadual perdeu participação nas ações preferenciais da Sanepar, mas aumentou para 90% sua fatia nas ordinárias (com direito a voto). Com isso, o sócio Dominó Holdings, que indicou três dos nove diretores e três dos nove conselheiros, deixará a gestão da companhia nos próximos meses.
Para Ricardo Pedro, diretor de administração de recursos do banco Finaxis, o sucesso da oferta de ações da Sanepar se deve a uma “comunhão de fatores”. “A bolsa teve um bom ano em 2016, mas havia escassez de novas ofertas. Então surgiu a da Sanepar, uma empresa que buscou se enquadrar em procedimentos de governança corporativa, que tem projetos importantes a serem realizados, uma distribuição regular de dividendos”, cita.
Plano de demissões
A Sanepar levantou R$ 258 milhões na oferta de ações. Cerca de 58% desse valor será usado na ampliação da rede e ligações de água e esgoto.
Os 42% restantes vão financiar um plano de aposentadoria incentivada e demissão voluntária que deve reduzir os gastos com pessoal, que hoje representam 34% das despesas operacionais. O prazo de adesão à primeira etapa desse plano termina no sábado (28). A expectativa da empresa é de que 500 dos 7,4 mil empregados se inscrevam.
R$ 608 milhões...
...é a estimativa do BTG para o lucro da Sanepar em 2016. O banco projeta que o lucro quase dobrará em dois anos, chegando a R$ 1,168 bilhão em 2018.
R$ 894 milhões...
...foi a arrecadação do governo estadual no “re-IPO” da Sanepar. Principal vendedor na operação, o estado diz que usará o dinheiro em investimentos.
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