A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta sexta-feira pelo Banco Central (BC), trouxe poucas alterações em termos de estrutura de parágrafos, mas as pequenas mudanças foram bastante relevantes, segundo leitura que fez do documento o economista-chefe da Santander Asset Management, Ricardo Denadai. A avaliação do economista é de que a autoridade monetária inseriu nesta ata um grau maior de preocupação com relação ao impacto da crise externa sobre a atividade doméstica, o que abre espaço para a Selic continuar sendo reduzida até um nível de 7,5% ao ano. Na avaliação de Denadai, outro ponto analisado pelo BC é que a deterioração da economia internacional pode abalar a confiança do empresário e isso acaba sendo um inibidor de investimentos.
Para ele, o BC reforçou que a Selic, hoje em 8,50% ao ano, poderá continuar caindo a um ritmo de 0,50 ponto porcentual em julho, mas deixou transparecer que há mais elementos de preocupação que podem levar o ciclo de redução para além de 8%. "Trabalho com mais dois cortes de 0,50 ponto da Selic, para 7 50% ao ano", disse.
Entre as poucas, mas relevantes, mudanças na ata do Copom de maio em relação à de abril, o economista-chefe da Santander Asset cita uma do parágrafo 16, de onde a autoridade monetária suprimiu a previsão de que o contágio da crise atual sobre a economia seria na proporção de um quarto do que foi na crise de 2008. Na avaliação de Denadai, tal alteração é para pior no que diz respeito ao tamanho do contágio. "Para mim, o BC continua trabalhando com um cenário sem ruptura da economia internacional mas está sinalizando que o efeito da crise atual sobre a economia doméstica pode ser maior de um quarto do que foi na crise de 2008", afirmou.
Também chamou a atenção de Denadai a mudança na análise de conjuntura do parágrafo 18 da ata. Neste trecho, segundo o economista, a autoridade monetária sinaliza que a transmissão do câmbio para a inflação será menor ao prever, no cenário de referência do próprio BC (aquele que considera estáveis as taxas de câmbio e juros), IPCA em torno da meta central de 4,5% em 2013.
Denadai lembra que, quando rodou seu cenário de referência no Copom de abril, o BC inseriu no modelo um dólar cotado a R$ 1,85 e uma Selic em 9,75% ao ano. Já no Copom de maio, o BC fez o mesmo exercício inserindo no modelo um dólar a R$ 2,05 e uma Selic a 9% ao ano.
"Ou seja, mesmo com R$ 0,20 a mais no câmbio - estamos falando de uma depreciação de 11% - e uma Selic 0,75 ponto porcentual abaixo, a projeção do IPCA para 2013 se manteve estável ao redor da meta central de inflação", explicou o economista. Isso significa, na opinião dele, que no entendimento do BC a atividade está fraca a ponto de juros mais baixos e dólar mais alto não serem suficientes para aquecer a demanda por produtos produzidos internamente.
Denadai cita ainda o parágrafo 22. Neste tópico, o BC discorre sobre os canais de transmissão da crise para a economia doméstica. Normalmente, a instituição fala sobre a corrente de comércio, fluxo de investimentos e condições de crédito. Na ata do Copom de maio, no entanto, a autoridade monetária acrescentou a preocupação com o efeito da crise sobre a confiança do empresário. "Isso também se constitui numa mudança importante porque o contágio da confiança do empresário pode resultar na retração de investimentos e de oferta", avaliou.
De acordo com o economista da Santander Asset, a preocupação do BC é pertinente porque o Índice de Confiança da Indústria (ICI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que no começo do ano apontava para a recuperação da economia, nos últimos três meses vem em num ritmo lento.
Outro indicador citado por Denadai é o PMI HSBC, que em maio caiu abaixo da linha d'água de 50 pontos, tanto o da indústria como o de serviços. "Isso significa que as empresas terão menos confiança para investir", diz.