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A eventual compra da companhia norte-americana Sara Lee pela brasileira JBS seria certamente o maior desafio que a família Batista, que controla um conglomerado de empresas, já enfrentou na vertiginosa jornada para o topo entre os maiores grupos em proteína animal no mundo.

De um açougue em Goiás para um grupo empresarial que atua em cinco continentes e que deverá faturar 33 bilhões de dólares em 2010, a família Batista protagonizou lances inesperados e ousados nessa trajetória, como a compra da Swift e da Pilgrim's Pride, nos EUA, ou a do Bertin, no Brasil.

Mas a eventual aquisição da Sara Lee seria um lance ainda mais surpreendente. Tanto pelo tamanho, já que a companhia norte-americana tem um valor de mercado superior ao da própria JBS, quanto pela complexidade, devido a áreas como café e chá - coisa que parece ser de outro mundo para uma companhia que lida com carnes.

Algumas das primeiras reações de analistas no mercado financeiro sobre a possibilidade de a JBS comprar a Sara Lee, que possui algumas das marcas mais conhecidas do varejo norte-americano, foram no sentido de que seria pouco provável. Mas já há opiniões divergentes.

"Vindo do JBS não me surpreende", diz o analista da consultoria MB Agro, Cesar Castro Alves, quando questionado sobre a possibilidade de o negócio ser concretizado.

"Não me surpreenderia de maneira alguma, porque os caras são bastante capitalizados e bastante aventureiros", acrescenta Alves, referindo-se aos três filhos de José Batista Sobrinho, que atualmente tocam o grupo iniciado pelo pai há mais de 50 anos.

Joesley Batista é o presidente executivo da JBS SA, o grupo que controla a operação global a partir de São Paulo. O irmão Wesley Batista é o presidente dos conselhos de administração da JBS USA e da Pilgrim's Pride, o braço avícola nos EUA. José Batista Júnior é membro do conselho da JBS SA, da qual também já foi presidente.

Foram os três, ainda que com alguns conselhos do pai - que ainda visita as propriedades e se faz presente nas reuniões do conselho da JBS SA - que transformaram a companhia.

Salto iniciado em 2005, com a aquisição da Swift Argentina, que marcou o início da internacionalização da empresa. Poucos meses depois, o grande passo nos EUA com a compra da Swift norte-americana.Em 2007, a JBS se tornou a primeira companhia de carne bovina do Brasil a ter ações negociadas em bolsa, com o IPO na Bovespa. Outras aquisições seguiram-se na Europa (metade da Inalca), Austrália (Tasman), EUA (Smithfield e Pilgrim's Pride) e Brasil (Bertin), entre outros negócios.

Os Batista contaram com um grande apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiou parte importante dessas aquisições. Mas Joesley se defende de acusações de favorecimento governamental em seu estilo direto e sem frescuras.

"Isso é o maior absurdo", afirmou durante uma coletiva em agosto, quando questionado sobre o relacionamento com o banco estatal. "Preciso reiterar que o BNDES nunca me favoreceu em p... nenhuma, é o maior absurdo dizer que nos escolheu. Quem comprou a Swift fomos nós, quem comprou a Pilgrim's fomos nós, então ele tem que financiar a gente, não os outros".

Segundo o banco Credit Suisse, o BNDES é o detentor atualmente de 17 por cento do total de dívida emitido pela JBS e possui 20 por cento das ações do grupo, incluindo uma parte em debêntures conversíveis ao final de 2011.

A eventual participação do BNDES novamente, caso Sara Lee e JBS cheguem a algum acordo, é uma incógnita no mercado. JBS e Sara Lee se negam a comentar o assunto.

Elevar margens de lucro

Apesar de ter afirmado no mês passado, em uma reunião com analistas e investidores em São Paulo, que continuava "com o firme propósito de desalavancar a empresa", Joesley e outros gestores do grupo já deram vários indícios de que, após garantir o topo no processamento de carne, buscariam elevar margens de lucro.

Isso ocorreria tanto na aposta em marcas como em um grande sistema de distribuição e comercialização.

"A gente quer passar de 50 por cento em distribuição direta e não tenho dúvidas de que quando atingirmos isso a empresa toda estará operando com margem acima de dois dígitos", afirmou Joesley na ocasião.

"Queremos agregar mais valor por meio das marcas que são bastante conhecidas", acrescentou o diretor de Relações com Investidores, Jerry O'Callaghan.

O consultor Osler Desouzart, ex-executivo de Perdigão, Sadia e Doux Frangosul, que hoje assessora companhias no Brasil e no exterior, vê a eventual aliança de forma bastante positiva.

Para ele, como a atividade de proteína animal é extremamente concentrada em poucos países, os grandes no setor precisam ter capacidade de presença local nessas nações, capacidade de transformação, distribuição e de colocação mercadológica.

"E isso você só faz através de empresas fortes localmente, de marcas locais muito conhecidas... A Sara Lee é uma coleção de brands, é um mundo", diz.

"Não há dinheiro em produzir carne, agora há dinheiro em fazer marketing de carne, há dinheiro em distribuição de carne e muito dinheiro sobretudo em logística de carne... Não só a marca, mas a sua capacidade de comercialização", acrescenta.

O analista Cauê Pinheiro, da SLW Corretora, diz que os Batista estão atrás "de marcas, novos clientes, novos produtos, produtos complementares e regiões complementares".

"As sinergias são grandes", afirma, sem se esquecer, no entanto, do eventual impacto para as ações da companhia, que não apresentam uma performance muito brilhante ultimamente.

No acumulado de 2010, as ações do JBS registram queda de cerca de 25 por cento, para 6,91 reais, enquanto o Ibovespa tem uma baixa no mesmo período de aproximadamente 2 por cento. Na segunda-feira, as ações do JBS fecharam em queda de 1 por cento.

"Seria uma aquisição talvez boa para o JBS, mas não para os acionistas minoritários."

Joesley Batista deu sua versão, na reunião de novembro, sobre o desempenho dos papéis da empresa.

"Acho que a gente paga pelo novo, por sermos uma empresa muito nova, muito dinâmica. As coisas que fazemos não são óbvias", afirmou.

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