Perto de completar 70 anos no Brasil, a multinacional francesa Schneider Electric, especializada em gestão de energia e automação, enxerga no processo de digitalização da indústria e na chamada internet das coisas (IoT, da sigla em inglês) o caminho que quer trilhar nos próximos anos. Sob a batuta do executivo Cleber Morais há quase um ano, que tem vasta experiência no comando de empresas de tecnologia (Sun, Avaya e a paranaense Bematech), a companhia investe hoje 1,5 bilhão de euros (cerca de R$ 5 bilhões) em inovação tecnológica para conectar máquinas com máquinas. E quer mais.
O tamanho do mercado de IoT que vem por aí não é pequeno. A consultoria IDC estima que o segmento da internet das coisas cresça a uma taxa anual de 17% nos próximos anos, saindo de um faturamento de US$ 698,6 bilhões em 2015 para US$ 1,3 trilhão em 2019. A Schneider Eletric já é atualmente a maior fabricante de sensores para máquinas e equipamentos. “Hoje o seu carro passa por um pedágio e a conta vai para a sua casa através de um dispositivo instalado no automóvel. O que vem por trás disso é explosivo”, sentencia o presidente.
Os cinco anos à frente da paranaense Bematech prova que Morais sabe o que diz. O executivo deu uma guinada na direção da empresa com sede em São José dos Pinhais. Em 2015, Morais liderou a venda da Bematech para a Totvs num negócio avaliado em R$ 550 milhões. A Schneider vem do outro lado. Nos últimos 10 anos, foram 100 empresas no mundo compradas pelo grupo francês.
A parte central do negócio da companhia francesa é a eficiência energética. As oportunidades de expansão que a Schneider aposta hoje, segundo Morais, são soluções para gerenciamento inteligente e economia de energia em indústrias, edifícios ou hospitais. “Nós temos uma fábrica em Cajamar que colocamos automação da eficiência energética e o retorno que tivemos desse investimento foi de 10 meses”, afirma.
Ao todo, a companhia produz uma gama de 1,5 bilhão produtos por ano. A complexidade de negócios vai desde interruptores e tomadas até sistemas de automação de usinas atômicas. No meio disso, há soluções para empresas de utilities – como distribuição de energia – foco da unidade fabril localizada na Linha Verde, região Sul de Curitiba.
Produção local
A fábrica na capital é uma das duas unidades da Schneider no mundo que produz religadores – equipamentos utilizados em sistemas elétricos que têm a função de proteger a rede de problemas transitórios, como quedas de energia. Segundo o engenheiro eletricista Marcel Araújo, gerente de serviços e comissionamento da empresa, os religadores ajudam a reestabelecer a energia, interrompida pela queda de uma árvore, por exemplo, buscando outro circuito para fornecer luz da região afetada.
Entre as diversas unidades de negócio da Schneider, a de energia é que acumula os melhores resultados sob a liderança de Morais, com crescimento na casa dos dois dígitos. A divisão dobrou sua participação no mercado, passando de 30% de market share para 60%. A fábrica em Curitiba opera atualmente com 100% da capacidade instalada e está contratando novos funcionários (hoje são 115).
O diretor da planta Alexandre Reali diz que a produção na unidade dobrou em 2016, mas não revela números. “A demanda do mercado é cada vez mais alta e temos planos de expansão”, diz. A Schneider não divulga números da operação no Brasil, apenas globalmente.
No ano passado, a empresa fechou um contrato de US$ 29 milhões com a AES Eletropaulo para o fornecimento de 2,5 mil religadores. Foi o maior negócio de religadores firmado até hoje pela Schneider no mundo. Além de abastecerem o mercado nacional, os produtos fabricados em Curitiba também são exportados para países das Américas.