O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ameaçou punir os bancos que receberam dinheiro do depósito compulsório e não estejam repassando esses recursos na forma de empréstimos aos clientes.
A uma pergunta sobre o que o governo fará com bancos que estariam "segurando" os recursos, o presidente respondeu: "O Banco Central vai ter que tomar uma atitude e tomar o dinheiro de volta, pegar o compulsório outra vez, porque o Banco Central só vai liberar o dinheiro (do compulsório) na medida em que houver a concessão dos empréstimos", disse o presidente, em entrevista à imprensa em Nova Délhi, na Índia.
Lula insistiu que foram colocados à disposição do sistema financeiro R$ 100 bilhões. "Temos que garantir liquidez para que, se a pessoa for ao banco pegar dinheiro, o dinheiro esteja lá para ela tomar o empréstimo."
Ante a insistência de um repórter na afirmação de que os bancos estão "escondendo" o dinheiro, o presidente reagiu: "Não podem esconder. O Banco Central vai acompanhar isso. O dinheiro disponibilizado pelo Banco Central é o compulsório remunerado e, portanto, é a uma taxa de mercado. Ninguém pode dizer que está faltando dinheiro no Brasil para financiar quem quiser tomar dinheiro emprestado."
Na entrevista, o presidente, comentando sobre a crise financeira internacional, disse que seu lema passou a ser: "Contra a crise econômica, mais produção, mais mercado interno e novos parceiros. É assim que vamos sair da crise."
Empresas
Lula disse que não tem conhecimento do número de empresas que estão enfrentando problemas por causa da alta do dólar. "Todas as empresas que apostaram dinheiro e perderam têm de arcar com as suas responsabilidades. O Brasil está disposto a criar condições para emprestar dinheiro pela lógica do mercado", disse.
Lula ressaltou que o governo brasileiro não vai fazer o que se fazia antigamente, "de baixar um pacote econômico, que baixava uma série de coisas e falhava três meses depois do pacote. Vamos cuidar passo a passo."
O presidente disse que vê os jornalistas inquietos, perguntando porque a crise não chega logo ao Brasil e afirmou: "ela não chega logo porque o Brasil tem desenvolvimento. Não chega logo porque o Brasil tem contratação de obras públicas para o governo. Não chega logo porque, de US$ 112 bilhões que a Petrobras tem de investir até 2012, calculado ao preço do barril de US$ 35 e não de US$ 85, US$ 104 bilhões são caixa próprio da Petrobras e não é dinheiro emprestado, por isso é que nós estamos com certa tranqüilidade. Porque sabemos que, se tiver uma recessão, ela pode causar problemas ao Brasil, mas ao invés de ficar chorando, nós temos é de aumentar as nossas exportações para a Índia, para a Indonésia, países africanos, para o Oriente Médio", disse.
Fundo Soberano
O presidente defendeu o Fundo Soberano do Brasil (FSB). Questionado sobre a possibilidade de o Congresso Nacional retirar a proposta de criação do Fundo da pauta para facilitar a aprovação de outras medidas provisórias mais importantes para o governo, Lula respondeu: "O Fundo Soberano é extremamente importante. Estou a 15 mil quilômetros de distância. Não sou líder do Congresso, não sou deputado nem senador. Como é que eu posso responder?".
Lula disse que, na sua opinião, os parlamentares têm de agir para facilitar a votação das coisas que são prioritárias neste momento. "Qualquer que seja a decisão deles, para mim, tá ótimo", disse, acrescentando: "o que eu quero garantir é que o Brasil vai continuar crescendo, o mercado interno vai continuar sendo uma das molas propulsoras do nosso crescimento".
Retomando o assunto da crise, Lula disse que nesse negócio de crise econômica "não vale a música do Zeca Pagodinho 'Deixe a vida me levar'. Nesse negócios, a gente toma posição e sai na frente".