O Banco Central anunciou ontem à noite um corte de um ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, que agora está fixada em 10,25% ao ano. Trata-se da taxa mais baixa já registrada desde a criação do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, em 1996.
Ainda assim, a decisão representou uma mudança nos rumos traçados nos outros dois encontros do Copom realizados neste ano, quando, diante do quadro recessivo no Brasil, a redução nos juros se acelerou. Em janeiro, quando o mercado financeiro apostava num corte de 0,75 ponto porcentual, o BC surpreendeu e baixou a Selic em 1 ponto. Em março, a queda foi ampliada para 1,5 ponto.
Em nota divulgada após a reunião, o BC não apresentou maiores justificativas para a decisão. "Avaliando o cenário macroeconômico e visando ampliar o processo de distensão monetária, o Copom decidiu reduzir a taxa Selic para 10,25% ao ano, sem viés, por unanimidade", diz o texto.
A decisão de ontem fez o Brasil perder o amargo posto de país com o maior juro real do planeta taxa descontada a inflação projetada para os próximos 12 meses. Levantamento da UpTrend Consultoria mostra que a taxa real brasileira caiu para 5,8%, abaixo da China que tem juro real de 6,6%, e Turquia, com 6,4%.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o BC está na direção correta ao reduzir a Selic. "Toda a vez que a Selic cai, eu fico feliz. Está na direção correta."
Perto do fim
Com a queda anunciada ontem, o processo de redução da Selic se aproxima do fim. No mercado financeiro, a expectativa é que os juros não caiam para menos de 9,25% ao ano, sendo que a dúvida está no cronograma dessa redução.
Desde o início da fase mais aguda da crise, em setembro do ano passado, o BC reduziu os juros em 3,5 pontos porcentuais. Mas a queda só teve início em janeiro, quando já se acumulavam muitos sinais de que a economia brasileira estava sofrendo uma forte retração.
Agora, a avaliação é outra. Para o BC, há sinais de que a economia brasileira já conseguiu sair do fundo do poço em que se encontrava entre o final de 2008 e o início de 2009. Embora reconheçam que a recuperação ainda é tímida, diretores da instituição têm dito que as projeções do setor privado para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano estão excessivamente pessimistas.
Atraso
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, a decisão do Copom foi positiva, mas aquém das expectativas da indústria brasileira. "Os indicadores dos últimos meses mostram que a crise financeira ainda está longe de uma solução. Os níveis de produção, emprego e as concessões de crédito ainda se mostram acentuadamente abaixo dos níveis registrados no período pré-crise", destacou.
Concorda com a CNI a Força Sindical. O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, disse que a queda na Selic foi tímida. "É um absurdo esta mesmice conformista dos tecnocratas do Banco Central que insistem em reduzir os juros a conta gotas e se curvar aos especuladores", criticou a direção da entidade.
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O corte na Selic anunciado ontem é suficiente para garantir uma retomada da economia?
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