O spread bancário, diferença entre a taxa de juros que as instituições financeiras pagam na captação do dinheiro e a que cobram dos clientes, está caindo no Brasil em ritmo mais lento que o juro básico da economia (Selic). Segundo o Banco Central (BC), o spread médio do sistema caiu de 30,5 pontos porcentuais em janeiro para 28,1 pontos em maio, ou seja, 2,4 pontos. No mesmo período, a Selic saiu de 13,75% para 9,25% ao ano, diferença de 4,5 pontos. "Isso se deve à inadimplência, que ainda está em ascensão", disse o economista do Insper (ex-Ibmec São Paulo) Otto Nogami. Um colega que pede para não ser identificado tem explicação diferente. "Os bancos aproveitam que o produto que vendem (dinheiro) está escasso para cobrar mais caro."
O economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, argumenta que a comparação entre spread e Selic não é correta do ponto de vista metodológico. "O certo é comparar o comportamento da Selic com o da taxa de aplicação (que mostra quanto os bancos cobram dos clientes)", disse. Segundo o BC, a taxa de aplicação recuou de 42,4% em janeiro para 37,9% ao ano em maio, ou seja, 4,5 pontos - evolução idêntica à da Selic. Sardenberg contesta, ainda, o peso que se dá no Brasil à questão do spread. "Ninguém compra um carro pensando no lucro da montadora, mas no preço que pagará pelo veículo", compara. "O que importa (para o cliente bancário) é a taxa que paga.
O debate sobre spread bancário não é novo no Brasil, mas tende a crescer por causa da queda da Selic para níveis historicamente baixos. Uma simulação feita pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) indica, por exemplo, que o juro médio cobrado no comércio fica em 106% ao ano com a Selic atual, de 8,75%. Ou seja, o financiamento equivale a mais de 12 vezes a taxa básica do país.
Segundo estudos internacionais (um deles do Fundo Monetário Internacional), o spread no Brasil é o mais alto do mundo. Os bancos atribuem essa situação a uma série de fatores: inadimplência mais elevada do que em outros países, impostos na intermediação financeira, depósitos compulsórios e despesas administrativas. O governo, porém, avalia que falta concorrência no setor.
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