O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidirá nesta quarta-feira (31) a nova taxa de juros. Tudo indica que o órgão deve manter o comportamento registrado desde agosto: um corte de meio ponto percentual, levando a Selic de 11,75% para 11,25% ao ano.
No cenário interno, o câmbio permanece comportado e estável há alguns meses, oscilando em torno de R$ 4,90. No entanto, analistas econômicos destacam algumas preocupações. Uma delas é em relação à inflação. Os núcleos do IPCA estão um pouco acima da meta de 3% para o ano, com os preços dos serviços aumentando mais. Apesar de o IPCA-15 de janeiro ter vindo abaixo do esperado, economistas da XP Investimentos alertam para essa situação mais delicada.
Outra fonte de preocupação é a manutenção do aquecimento da economia. Dados de vendas no varejo e de serviços surpreenderam positivamente em novembro. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) interrompeu uma sequência de três meses seguidos de queda e ficou praticamente estável. A XP Investimentos destaca a aceleração dos salários reais nos últimos meses de 2023, indicando um mercado de trabalho aquecido.
Segundo o estrategista-chefe da Warren Investimentos, Sérgio Goldenstein, persistem as incertezas em relação à arrecadação do governo e à execução da política fiscal.
A dificuldade do governo em reduzir os benefícios tributários sobre a folha de pagamento, que podem comprometer as metas orçamentárias, e o anúncio de uma "nova política industrial" reforçam o viés expansionista das despesas fiscais e parafiscais, destaca a XP.
Goldenstein aponta que os efeitos negativos para o processo de flexibilização monetária poderiam vir da elevação da taxa neutra de juros (que não exerce influência na inflação), do volume de crédito subsidiado e dos potenciais impactos expansionistas sobre a demanda agregada.
No entanto, tudo isso é insuficiente para o comitê reduzir o ritmo dos cortes para 0,25 ponto percentual. O estrategista da Warren argumenta que a Selic ainda está em um nível bem contracionista, não há desancoragem adicional das expectativas de inflação para 2025 e 2026 e há a expectativa de arrefecimento da atividade econômica.
O Itaú também avalia que o Copom deve manter o ritmo do corte em meio ponto percentual, especialmente em um cenário com incerteza acima do usual. Os economistas da instituição financeira estimam que a Selic está ainda distante de seu nível terminal, estimado em 9% ao ano.
Cenário internacional também apresenta incerteza
No cenário externo, as taxas de juro de longo prazo nos mercados desenvolvidos estão próximas aos níveis observados na reunião anterior, apesar da volatilidade mais forte. Os preços das commodities recuaram, mas as cotações do petróleo estão um pouco acima dos níveis de dezembro, aponta a XP Investimentos.
Uma fonte de preocupação vem do aumento das tensões geopolíticas, com o ataque dos houthis, do Iêmen, a embarcações no Mar Vermelho. O temor é que, se o problema perdurar, o efeito sobre os preços do frete marítimo poderá reverter a tendência global de desinflação de custos, um efeito fundamental por trás da melhora recente nas perspectivas de inflação de muitos países.
Uma alternativa encontrada por operadores logísticos e companhias de navegação é desviar o tráfego marítimo pelo sul da África, o que ocasiona atrasos nas entregas e aumenta os custos com o frete, já que a distância percorrida é maior.
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast