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A incerteza paira sobre a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que se encerra nesta quarta-feira (8).
No encontro anterior, em 19 e 20 de março, o colegiado indicou que poderia realizar um novo corte de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) neste mês. A principal dúvida do mercado era se essa tendência de redução continuaria nas reuniões seguintes, a partir de junho.
Entretanto, o cenário mudou, e a expectativa predominante do mercado agora é de um corte menor, de 0,25 ponto, já nesta semana, devido aos seguintes fatores:
- A atividade econômica no país se mantém robusta, apesar de a taxa básica atual de 10,75% ao ano ser considerada restritiva;
- O governo Lula definiu metas fiscais mais frouxas para 2025 e 2026;
- A demora na manifestação dos efeitos do aumento das taxas de juros nos Estados Unidos; e
- Possíveis consequências negativas no cenário geopolítico global.
A alteração na meta fiscal para 2025, que passou de um superávit de 0,5% do PIB para a busca de déficit zero, recebeu duras críticas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
"Sempre que o governo promove mudanças que tornam a âncora fiscal menos transparente ou crível, isso implica em custos mais elevados em outras áreas, elevando o custo da política monetária", afirmou Campos Neto em 15 de abril, durante evento nos Estados Unidos.
"Nosso trabalho se torna muito mais difícil se houver a percepção de que não existe uma âncora fiscal sólida, pois a política fiscal e a monetária precisam atuar de forma conjunta", completou o presidente do BC.
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A Selic é referência para o mercado de crédito do país, e, por isso, as decisões do BC são monitoradas de perto por economistas e políticos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros já expressaram críticas à autoridade monetária anteriormente, quando os cortes eram de 0,5 ponto por reunião, defendendo um relaxamento mais acelerado das taxas.
Em uma ocasião, Lula afirmou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, não compreendia a realidade brasileira. Na última decisão do Copom, em março, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, classificou o aumento de juros – como o ocorrido entre março de 2021 e agosto de 2022 – como uma “forma burra” de controlar a inflação e sugeriu que o BC deveria estudar melhor os fundamentos da economia.
A retórica da deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente do Partido dos Trabalhadores, foi ainda mais agressiva. Em uma publicação na rede social X (ex-Twitter), ela acusou Campos Neto de ameaçar o país com sua política de manutenção da maior taxa de juros do mundo.
“Após incentivar a especulação com a revisão da meta fiscal, ele agora reclama que o desemprego está abaixo do que o mercado desejava. Para o presidente do BC, a perspectiva de pleno emprego representa uma ameaça à sua missão de sabotar o crescimento do Brasil”, declarou ela.
Os ataques tendem a se intensificar caso o Copom opte por uma redução menor na taxa Selic.
Indicadores do mercado financeiro sinalizam corte menor na Selic
A probabilidade de um corte de 0,5 ponto percentual na Selic despencou de 91,5% em 20 de março para 15,5% na última segunda-feira (6). No mesmo intervalo, a chance de corte de 0,25 ponto percentual saltou de 7% para 81,5%. A perspectiva de manutenção da taxa é de 2,6%. As chances são medidas pela negociação de contratos de opções de Copom na B3, a bolsa de valores brasileira.
Outro indicativo veio do boletim Focus, divulgado pelo BC na segunda-feira (6). A projeção mediana de bancos e consultorias para a Selic após a reunião, que até então era de 10,25%, caiu para 10,5%, sugerindo que o mercado agora espera majoritariamente um corte de 0,25 ponto percentual. Para junho, a expectativa é de uma redução similar, e para dezembro, a projeção mediana é de uma taxa de 9,63%.
Uma pesquisa do jornal "Valor" também indica que o mercado antecipa um corte menor na Selic na próxima decisão do Copom. De 118 instituições financeiras consultadas, 78 esperam corte de 0,25 ponto percentual, enquanto 40 apostam em redução de meio ponto.A comunicação do BC sofreu uma reviravolta significativa em 14 de abril, quando o presidente Roberto Campos Neto sinalizou que, diante de um contexto global incerto, a instituição poderia alterar o cenário principal. Essas declarações levaram à impressão de que o ciclo de cortes pode ser mais breve do que o previsto. Essa percepção se acentuou após as declarações dele sobre o rebaixamento da meta fiscal do governo.
Mercado vê divergência entre diretores do BC sobre a taxa Selic
A percepção de falta de consenso no Copom para a decisão desta quarta-feira também aumentou. Segundo o "Valor", os investidores estão atentos às declarações mais moderadas do diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, que se mostrou favorável a um relaxamento maior da Selic. “É essencial manter a serenidade, não se deixar levar pelo entusiasmo e entender como isso vai se desenrolar. O risco é de ficarmos um pouco atrasados nesse processo de resposta”, disse ele.
Essa fala foi interpretada pelo mercado como mais amena em comparação com outras declarações de diretores. Indicado pelo atual governo, Galípolo é considerado um possível sucessor de Campos Neto, cujo mandato termina no fim do ano.
Em um comunicado aos clientes, a corretora XP Investimentos manifestou acreditar em um corte de 0,25 ponto, mas não descartou a possibilidade de alguns diretores votarem de forma divergente, interrompendo uma sequência de decisões unânimes.
“Diante do aumento das incertezas no cenário econômico, o Copom deve adotar uma postura mais cautelosa, reduzindo o ritmo de flexibilização monetária para 0,25 p.p, Acreditamos que a decisão pode ser dividida”, afirmou a corretora.
A última vez que o Copom teve uma votação dividida foi na reunião de agosto de 2023, quando iniciou o ciclo de redução da Selic com um corte de meio ponto percentual. Na ocasião, quatro dos nove membros votaram por um corte menor, de 0,25 ponto percentual.
De acordo com o economista-chefe da Daycoval Asset, Rafael Cardoso, a inflação brasileira mais baixa que o esperado contrasta com um cenário fiscal mais desafiador. Ele ressalta que o anúncio de uma meta fiscal reduzida para 2025 contribuiu para o agravamento das expectativas e para uma maior volatilidade do dólar e da bolsa. A instituição também projeta um corte de 0,25 p.p.
A corretora Warren Rena considera que existem argumentos sólidos tanto para um corte de 0,25 ponto percentual quanto para um de meio ponto. A empresa pondera que as probabilidades são semelhantes, mas em seu cenário principal opta pela continuidade da redução da Selic em meio ponto.
Segundo a corretora, os comentários de Campos Neto sobre a mudança de cenário foram feitos no pico do estresse nos mercados, quando o câmbio se aproximou de R$ 5,30 e o risco-país, medido pelo CDS de 5 anos, estava em 163 bps. Desde então, o real valorizou-se cerca de 4% e o risco-país recuou para 136 bps, patamar similar ao da última reunião do Copom, em 20 de março.
O estrategista-chefe da corretora, Sérgio Goldenstein, avalia que a recuperação do real e a diminuição do risco-país resultaram, inicialmente, de uma correção após o momento de maior tensão. Contribuíram também para essa melhora as declarações do presidente do Fed (o BC americano), Jerome Powell, de que é improvável que a próxima medida na política monetária americana seja uma alta nos juros e da divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho norte-americano.