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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu encerrar nesta quarta-feira (17) o ciclo de redução e manutenção da taxa básica de juros. O Copom anunciou um aumento de 0,75 ponto porcentual na Selic, que agora passa de 2% para 2,75% ao ano — é a primeira alta em quase seis anos. O aumento contrariou as expectativas do mercado, que esperavam uma alta de apenas 0,5 ponto percentual.
O fim do ciclo de reduções já havia sido aventada por integrantes do comitê ainda em janeiro. Naquele momento, foram apontadas chances de entrave nos sinais de recuperação econômica por causa do recrudescimento da pandemia e do fim do auxílio emergencial (ainda não retomado por parte do governo federal).
A projeção pelo reinício de um ciclo de altas por parte do Banco Central surgiu puxada pela inflação, que fechou os últimos doze meses (encerrados em fevereiro) em 5,2%. Essa inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acomoda elevações que pesaram no bolso do brasileiro. É o caso dos alimentos consumidos em casa, que segundo o IBGE subiram 19,42%, e do gás de cozinha, que inflou a alta geral dos combustíveis domésticos para 13,38%.
Na avaliação dos economistas do Bradesco, a ação se faz necessária devida às “surpresas altistas e a rápida elevação das expectativas de inflação para este ano”. Para o banco, a decisão se relaciona à “leitura de uma desaceleração temporária da atividade econômica, por conta do agravamento da pandemia, mas de retomada mais evidente à frente”, completa.
Na avaliação do professor da Fipecafi, Diogo Carneiro, diante das pressões inflacionárias cresceu a expectativa para que o BC sinalize “ações concretas para perseguir o seu objetivo de política monetária, que é a manutenção da taxa de inflação dentro da meta estabelecida”.
Ao voltar a subir os juros, o Copom mira a inflação de médio e longo prazo, tentando evitar que alta dos preços se dissemine na economia. O centro da meta de inflação perseguida pelo BC em 2021 é de 3 75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%), enquanto o parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%).
Selic deixa piso da série histórica
O último movimento de subida promovido pelo colegiado do Banco Central (BC) ocorrera em julho de 2015. Naquela ocasião, a taxa saiu de 13,75% ao ano para 14,25% e permaneceu assim até outubro de 2016, quando voltou a cair, 0,25 ponto, para 14%. A partir dali o Copom reduziu sucessivamente os juros básicos da economia até que a taxa chegasse a 6,5% ao ano em março de 2018.
Após um novo platô, em julho de 2019 o Copom retomou cortes na Selic até os 2% ao ano, alcançados em agosto de 2020 e mantidos desde então. O índice foi o patamar mais baixo da série histórica, iniciada em junho de 1996. Na prática, quanto menores os juros básicos da economia, mais barato fica o crédito para empresas e famílias, o que possibilitou o crescimento dos financiamentos no auge da crise e ajudou a segurar as quedas na atividade e no emprego.
Mas agora o cenário é outro. O próprio Copom avisou, na decisão desta quarta-feira, que antevê um novo ajuste da mesma magnitude na próxima reunião, nos dias 4 e 5 de maio. Mantida essa previsão, a taxa subiria novamente dos atuais 2,75% ao ano para 3,5% ao ano.
Segundo os membros do comitê, a prescrição será adotada a menos que haja uma "mudança significativa" nas projeções de inflação ou no balanço de riscos. "O Copom ressalta que essa visão para a próxima reunião continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos, e das projeções e expectativas de inflação", afirmou em comunicado.
A projeção do mercado financeiro, em média, é que o país encerre o ano com Selic em 4% ao ano, mas previsões mais pessimistas apontam para uma taxa básica de juros em 5% a 6%.