Um dia após a confirmação de que a economia brasileira desacelerou no ano passado e da promessa do governo de adotar uma "ação mais forte" para retomar o crescimento, o Banco Central cortou o juro em 0,75 ponto porcentual, para 9,75% ao ano. Assim, a taxa Selic volta à casa de um dígito pela primeira vez desde o início de junho de 2010. A decisão colabora no esforço de tentar reduzir a entrada de dólares no país, mas pode aumentar a urgência do debate sobre mudanças na regra da rentabilidade da poupança.
A decisão não foi unânime: cinco diretores do BC votaram pela redução de 0,75 ponto e dois optaram por um corte menor, de 0,50 ponto. O atual ciclo de redução dos juros foi iniciado em agosto pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Desde então, a taxa Selic havia caído 2 pontos, sempre em doses de 0,50 ponto. Agora, portanto, a taxa acumula queda de 2,75 pontos no período.
O corte de hoje é o maior desde junho de 2009, quando a taxa havia caído 1 ponto. Esta é a segunda vez que o juro fica na casa de um dígito a primeira foi entre junho de 2009 e junho de 2010, quando a Selic chegou ao mínimo de 8,75%.
A maioria dos bancos apostava em corte menor, de 0,50 ponto. Nos últimos dias, porém, dados frustrantes do crescimento da economia e sinais repetidos de preocupação do governo com a entrada de dólares fizeram com que o mercado de juros futuros começasse a trabalhar com a hipótese de redução mais forte. Ontem, os negócios desse segmento indicaram que a maioria dos investidores apostava em corte de 0,75 ponto.
Efeito PIB
Os argumentos para reforçar a dose do corte de juros vieram à tona nas últimas semanas. O mais impactante veio na terça-feira, quando foi anunciado que a economia cresceu apenas 2,7% em 2011. Por isso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, prometeu reagir.
A necessidade dessa ação ganha tom de urgência quando se coloca na mesa a estratégia de muitos países ricos que têm aumentado a oferta de dinheiro na praça. Parte desse dinheiro migra para países como o Brasil atrás de juros, fenômeno classificado como "tsunami monetário" pela presidente Dilma Rousseff. Com juros menores, diminui, pelo menos um pouco, a atratividade do país para os estrangeiros.