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Comportamento

Sem calças no metrô e ao vivo na internet, grupo faz o mundo rir

Nicholson, em São Paulo: “a internet é maravilhosa, mas é o mundo físico que move a rede” | Jonne Roriz/AE
Nicholson, em São Paulo: “a internet é maravilhosa, mas é o mundo físico que move a rede” (Foto: Jonne Roriz/AE)

São Paulo - O que ele quer é improvisar. Membro de um dos grupos mais "bizarros", "irreverentes", "espontâneos" surgidos na internet – todos adjetivos já usados pela mídia para descrevê-lo –, Chad Nicholson quer mais é transformar o dia a dia monótono em algo engraçado. E, para isso, com seus companheiros, mobiliza milhares de internautas para viverem situações fora do normal no mundo real: de andar sem calça no metrô até organizar um falso show do U2.

Chad é uma das cabeças por trás do grupo Improv Everywhere (www.improveverywhere.com). Fotógrafo, é responsável por clicar a maioria das estripulias. Com o objetivo de "improvisar em qualquer lugar", o grupo, que começou com 10 pessoas em 2001 em Nova York, cresceu para 40 mil ao redor do mundo. Tudo por conta da internet. Em oito anos, sua popularidade aumentou no mesmo ritmo em que a rede mundial era inundada por ferramentas sociais como Orkut, Facebook, YouTube, blogs... Hoje, seus vídeos já contam mais de 14 milhões de visitas.

A graça dessa galera é transformar situações comuns em bizarras. O que você faria se estivesse no metrô e começassem a aparecer milhares de pessoas sem as calças? Se uma loja de eletrônicos fosse invadida por 80 falsos vendedores vestidos à caráter? Se, numa loja de departamentos, clientes andassem em câmera lenta? Ou ainda se avistasse um suicida tentando se jogar de uma altura de um metro e aparecessem policiais e bombeiros para impedi-lo?

Todas essa situações são chamadas de "missões". E os "atores causadores" são recrutados pela internet. Não há roteiro, tudo é improvisado. "A rede é o começo e o fim. As pessoas veem nosso trabalho, se interessam, procuram a gente e participam das ‘missões’, que são publicadas na web em vídeos e fotos. Daí outras pessoas se interessam, fechando o ciclo", disse ao Nicholson, que esteve na semana passada em São Paulo.

Ele mesmo descobriu o grupo por conta desse burburinho. Um amigo mandou um link em 2004. E Chad se interessou pelo Improv, criado pelo norte-americano Charlie Todd – que ainda hoje um dos líderes e, por conta da experiência, tornou-se professor universitário de humor. Desde então não parou mais. São mais de 30 "missões" nas costas. E como todos, ele não é pago. Antes, para ganhar dinheiro, fazia fotos de atores. Hoje, mesmo com a fama, sustenta-se com cliques de bandas e casamentos.

"O que mais me atraiu foi o intuito do Improv causar diversão. As pessoas andam todos os dias de metrô. E é sempre a mesma coisa, monótono. Mas se de repente alguém começa a distribuir dinheiro a elas, uma das ‘missões’, o que acontece? Mudamos o cotidiano delas, fazemos com que sejam mais felizes."

Esse espírito, aliado à força de divulgação da internet, fez com que a lista de e-mails do grupo, uma das maiores formas de engajamento deles, tenha hoje 40 mil membros. O perfil do Facebook conta com 50 mil amigos. No YouTube, são mais 122 mil. "Começamos com 10 pessoas na primeira "no pants" (evento realizado anualmente em que os participantes invadem o metrô sem calças para registrar a reação das pessoas)", diz Chad. "Na última edição, no ano passado, foram 6 mil pessoas, em 40 cidades, de 26 países e ao mesmo tempo."

Outro evento anual, o MP3 Experiment, reuniu 600 pessoas na primeira edição. No ano passado, foram 3 mil. No "experimento", as pessoas levam seus MP3-players a áreas abertas, como parques, e apertam "play" ao mesmo tempo em um mesmo áudio. É uma espécie de gincana silenciosa. Quem está com o fone de ouvido entende as tarefas. Os de fora, ficam só imaginando o que seria tanta movimentação.

"Todas essas pessoas estão lá porque foram convocadas pela internet. Mas não faria o mesmo sentido se não fosse a mistura com o ‘real’. A internet é maravilhosa, mas o mundo físico é o que move a rede. Todas as coisas maravilhosas que estão na internet nasceram no mundo real", diz. "As pessoas participam porque querem ser parte de algo que vai para todo o mundo. E como temos uma base grande, conseguimos perfis bem específicos para uma ‘missão.’" O grupo, certa vez, conseguiu sósias do U2 para um show falso em cima de um prédio, que reuniu milhares de passantes acreditando ser a banda.

Como moral da história, em época da explosão de engajamento que o presidente dos EUA Barack Obama conseguiu via internet, Nicholson diz que qualquer um pode fazer o mesmo pela web. "No nosso caso foi mais fácil, pois tratava-se de uma coisa divertida, sem viés político. Em outros casos, é preciso começar pequeno, convencer as pessoas a quererem o que você propõe. Mas a internet está aí para isso. E as pessoas estão abertas."

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