A crise econômica levou a uma guinada nos planos de muitos brasileiros que se se tornaram dekasseguis. O curitibano Wilson Yamaguti, de 44 anos, por exemplo, foi para o Japão em 2006 com a intenção de ficar quatro anos. Voltou para o Brasil em janeiro, um ano antes do planejado, porque perdeu o emprego na fábrica onde trabalhava, na província de Gifu. "Em novembro, a empresa anunciou que mandaria embora os 50 estrangeiros. E não foi só ali. Minha esposa também perdeu o trabalho", conta.
Sem emprego e com pouca perspectiva de encontrar uma vaga, o casal preferiu voltar para o Brasil, onde o custo de vida é bem mais baixo. Segundo ele, o aluguel de uma quitinete, por exemplo, não sai por menos de US$ 500. "Sempre conto que um limão lá custa R$ 4", lembra. Em Curitiba, Yamaguti procura emprego aqui, trabalhava como consultor de recursos humanos e não pensa em voltar para o Japão. "O risco é muito grande".
A londrinense Fernanda Murakami, de 20 anos, passou os últimos três anos trabalhando em uma fábrica de produtos eletrônicos. No fim de outubro, ela e o marido, que é descendente de japoneses, decidiram passar férias no Brasil. "A ideia era passar alguns meses e voltar para lá. Mas meu marido foi demitido pouco antes de voltarmos e agora não há empregos. Decidimos ficar em Londrina, por enquanto", conta Fernanda.
A fábrica onde Fernanda trabalhava, na cidade de Komaki, na província de Aichi, fechou as portas. Vários colegas brasileiros foram mandados embora no fim do ano passado e ainda não encontraram trabalho. "Aqui meu marido já encontrou um emprego em uma processadora de soja e eu vou voltar a estudar. Quero terminar o segundo grau e entrar em uma faculdade", diz.
Para quem ficou no Japão, as alternativas ao trabalho nas indústrias automotiva e de eletrônicos estão nos setores voltados para o mercado interno. As fábricas de de "bento-ya", uma espécie de marmita bastante consumida pelos japoneses, ainda oferecem vagas, mas elas pagam menos a hora trabalhada em uma fábrica de bento-ya varia de 800 a 950 ienes por hora (entre R$ 20 e R$ 25), enquanto o setor automotivo paga até 1,2 mil ienes por hora (R$ 30). Além disso, as horas extras e noturnas, que pagam adicionais, são mais comuns nos setores automotivo e eletrônico.
Alguns brasileiros também têm conseguido vagas em serviços mais pesados, como o corte de bambus e a colheita agrícola, como na lavoura de espinafre. Em outra frente, o governo japonês tenta estimular o emprego de estrangeiros nos serviços de assistência a idosos e enfermagem. O problema é que isso exige qualificação algo que falta para quem trabalhava como operário. "Hoje em dia tem que saber falar, ler e escrever o idioma japonês. Estrangeiros estão disputando as poucas vagas com os japoneses de igual para igual", diz Fábio Nishimaki, um brasileiro que vive na província de Aichi.
Nishimaki foi um dos últimos nikkeis que restaram na fábrica onde trabalha, em Komaki. Na sexta-feira, dia 20, cumpriu seu último turno. Mas ele não pensa em voltar ao Brasil. Casado e com três filhos, Nishimaki diz que pretende ficar no Japão, onde se envolveu no movimento sindical. Ele é diretor do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos e do Setor de Informática do Japão (JMIU), onde representa como voluntário a comunidade brasileira de Aichi. "Com essa crise estão aparecendo os efeitos da falta de respeito aos direitos trabalhistas, como a garantia do seguro-desemprego", ressalta. (GO)
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