Startup Robinhood, fundada por Vladimir Tenev e Baiju Bhatt, atua no mercado de ações| Foto: Aaron Wojack/The New York Times

Uma startup chamada Robinhood Markets está encarando de frente as grandes corretoras com um aplicativo que não cobra comissão pelas transações. Desde que começou a funcionar em dezembro de 2014, o aplicativo atraiu um milhão de usuários e passou de US$ 2 bilhões em transações em 2015 para US$ 30 bilhões no ano passado.

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Apesar de o aplicativo estar ganhando popularidade, muitos especialistas do setor questionam se o modelo das transações gratuitas é sustentável, ou se a Robinhood Markets irá simplesmente desaparecer, como tantas outras startups. A empresa fatura atualmente com os juros do dinheiro depositado pelos clientes.

Empresa surgiu com a proposta de democratizar investimentos

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Na Robinhood, não há depósito mínimo para abrir uma conta e ela não cobra taxas pela compra e venda de ações de companhias listadas em bolsas de valores norte-americanas. Para manter os custos baixos, a empresa, com sede em Palo Alto, Califórnia, tem uma abordagem livre de frescuras. A Robinhood Markets não tem escritórios abertos ao público, não produz relatórios de pesquisa, não tem ferramentas de análise, nem ferramentas para rastrear ações ou a possibilidade de negociar em sua plataforma.

“O Uber abriu nossos olhos. Se podemos chamar um carro pelo telefone e assistir filmes, por que não podemos comprar 10, ou mil ações do Facebook da mesma maneira?”, questionou Howard Lindzon, sócio do Social Leverage Fund e um dos fundadores do StockTwits, uma plataforma de comunicação financeira. Seu fundo detém uma participação no capital da Robinhood.

Ilusão da gratuidade

Chase Kaye, de 21 anos em Manhattan, assinou o Robinhood há uns 12 meses, depois de ficar cansado de pagar a comissão de US$ 7 sobre transações feitas pelo Vanguard Group. “A interface no telefone é muito melhor. É simples, não intimida e é muito intuitiva”, afirmou Kaye, estudante de gestão de marketing no Baruch College. Atualmente, cerca de 70% de seus ativos estão no Robinhood, afirmou Kaye.

Ainda assim, nada é verdadeiramente gratuito no mundo das finanças. “A ilusão da gratuidade encoraja a realização de transações mais frequentes, o que, todos sabem, diminui as chances de retorno sobre o investimento. É como dar fichas grátis para apostadores”, afirmou Tad Borek, assessor de investimento na Borek Financial Management.

Até mesmo o nome sugere a imagem de uma empresa que ajuda os pobres, quando na verdade talvez esteja fazendo justamente o contrário, explicou Borek.

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Eles querem tornar o investimento acessível

Os fundadores da Robinhood questionam essas preocupações. Seu objetivo é tornar o investimento acessível a todos, não apenas aos super-ricos, o que levou à escolha do nome Robinhood, de acordo com Vladimir Tenev, de 30 anos, um dos fundadores da empresa.

“Temos investidores ativos que estão deixando de realizar transações com outras corretoras onde pagam milhares, ou dezenas de milhares de dólares em comissões. Também temos clientes mais jovens que estão acumulando ações e formando miniportifólios diversificados ao longo do tempo”, afirmou Tenev.

Um cliente poderia comprar uma ação, ou um ETF hoje e mais cinco ações no mês que vem e lentamente construir um portfólio. As taxas cobradas por empresas maiores tornariam proibitivo o custo dessa estratégia. Grandes corretoras como TD Ameritrade, Schwab, Fidelity e ETrade geralmente cobram de US$ 7 a US$ 10 por transação.

Frustações

O modelo de negócios simplificado da Robinhood levou a reclamações sobre seu serviço de atendimento ao consumidor, com muito tempo de espera no atendimento pelo telefone e e-mails que não são respondidos. Na internet, blogs também estão repletos de reclamações sobre a demora – até oito dias – na transferência do dinheiro de uma conta no Robinhood para uma conta no banco e vice e versa. Tenev afirma que a empresa está tentando resolver esses problemas.

Além disso, alguns clientes estão frustrados com o fato de a empresa não oferecer uma plataforma virtual de compra e venda de ações, nem transferência automática de contas de outras corretoras. Tenev afirma que isso irá mudar. “Nos próximos anos, certamente iremos oferecer essas coisas”, afirmou.

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CORRETORAS TRADICIONAIS

Até o momento, as grandes corretoras não parecem estar preocupadas com a Robinhood. Kim Hillyer, porta-voz da TDAmeritrade, afirmou que os investidores valorizam empresas que oferecem serviços, como cursos gratuitos, seminários on-line, ferramentas de pesquisa e consultores de investimento, além de uma plataforma completa, que inclua futuros e opções.

Ela destaca que as contas da TDAmeritrade continuam a crescer desde a criação da Robinhood, passando de US$6,3 milhões em 2014 para US$7 milhões no ano fiscal de 2016. “O crescimento no número de contas é uma confirmação do valor daquilo que propomos”, afirmou.

Erin Montgomery, porta-voz da Schwab, concordou. “Sabemos que os investidores querem que suas corretoras ofereçam valor, e nossos clientes encontram esse valor aqui”, afirmou. Os serviços de investimento e produtos da empresa incluem planejamento financeiro e pesquisa, assim como uma plataforma completa e transação gratuita com ETFs.

Mesmo assim, as duas empresas afirmam que sempre buscarão formas de continuar competitivas, e às vezes oferecem promoções com taxas baixas ou gratuitas.

Empresa surgiu com a proposta de democratizar investimentos

A Robinhood é uma criação de Tenev e Baiju Prafulkumar Bhatt, formados em Stanford e apaixonados por física e matemática. Em 2009, eles se mudaram para Nova York, onde criaram a Celeris and Chronos Research, que produzia softwares de transação em alta frequência para bancos e fundos hedge.

Inspirados pelo movimento Occupy Wall Street em 2011, eles repensaram suas prioridades. “O setor de serviços financeiros deveria estar ao alcance de todas as pessoas, a despeito de seu faturamento”, afirmou Tenev. Em 2012, voltaram para a Califórnia, contrataram engenheiros e passaram 18 meses construindo a Robinhood.

No fim de 2013, a Robinhood lançou a versão beta e convidou pessoas para testar o aplicativo. Quando uma página publicou um anúncio de lançamento no Hacker News e no Reddit, o site foi inundado com pedidos.

“Quase 50 mil pessoas abriram uma conta no aplicativo no primeiro fim de semana”, afirmou Bhatt, de 32 anos. Quando o aplicativo chegou à App Store no fim de 2014, a fila de espera já era de um milhão de usuários, quase todos com menos de 30 anos.

Modelo de negócio

A empresa arrecadou US$ 66 milhões em investimentos de nomes importantes do setor, como Andreessen Horowitz, GV, Index Ventures e New Enterprise Associates, além de pessoas famosas, como Jared Leto, Snoop Dogg e Nas.

Além de saldos de caixa, a empresa ganha dinheiro com “pagamento por fluxo de pedidos”, ou seja, o dinheiro que a empresa recebe por vender seus pedidos para formadores de mercado.

“Apenas esse faturamento não é o suficiente para sustentar uma corretora on-line que não cobra pelas transações – não chega nem perto disso”, afirmou Blain Reinkensmeyer, diretor de pesquisa da StockBrokers.com.

Recentemente, a Robinhood criou um programam Gold, que oferece contas de margem e pós-negociação, por uma taxa. “Acreditamos que a maior parte do nosso faturamento virá do Robinhood Gold no futuro”, afirmou Tenev.

Tentativa frustada

Outra empresa, a Zecco, tentou um modelo similar de “transações gratuitas” em 2006. Apesar de ter arrecadado mais de US$ 35 milhões em financiamento, não conseguiu se manter e acabou fundida como a TradeKing em 2012. Agora ela cobra US$4,95 por transação.

“A Zecco não encontrou um caminho para a lucratividade sem cobrar comissões e se transformar em uma corretora on-line tradicional. É incrível como a história é esquecida rapidamente”, afirmou Reinkensmeyer.

Lindzon, o investidor da Robinhood, destacou que a Zecco existia quando o uso de smartphones ainda estava engatinhando.

“Agora há bilhões de pessoas usando smartphones todos os dias, o mercado está muito diferente”, afirmou Aaron Levie, um dos fundadores da empresa na nuvem Box, que também investe na Robinhood.