O fim do impulso dado pelo agronegócio no começo do ano deixou o crescimento econômico mais dependente do consumo das famílias, pelo lado da demanda, e dos serviços, pelo lado da oferta.
Com isso, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre – que serão divulgados nesta sexta-feira (1.º) pelo IBGE – devem mostrar uma economia com “freio de mão puxado” após a surpreendente alta de 1,9% nos três primeiros meses do ano. Indicadores prévios divulgados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e pelo Banco Central (BC) sinalizam para isso.
O Monitor do PIB, da FGV, projeta uma expansão de 0,2% na economia no segundo trimestre. “Apesar da forte retração registrada pela agropecuária, os modestos crescimentos do setor industrial e de serviços colaboraram para o resultado positivo no 2.º trimestre”, diz Juliana Trece, coordenadora da pesquisa.
A economista também destaca que esse fraco crescimento mostra a pouca capacidade da economia para crescer de forma mais robusta em um ambiente de baixo investimento, juros altos e elevado grau de endividamento das famílias.
Segundo ela, esse desempenho mostra uma certa resiliência da economia, que segue em terreno positivo mesmo com grande parte do bônus da agropecuária se exaurido.
Estimativas da FGV apontam que, do lado da demanda, o carro-chefe do crescimento será o consumo das famílias, com uma expansão de 2,3%. A instituição aponta que este crescimento vem se desacelerando desde o ano passado.
Outro indicador que também mostra um desempenho mais comedido da economia brasileira é o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que sinaliza para uma evolução de 0,43% no segundo trimestre frente ao primeiro.
“A dissipação do choque positivo da agricultura, a moderação do mercado de trabalho e as condições monetárias apertadas são as principais razões por trás desse cenário”, afirma o economista Rodolfo Margato, da XP Investimentos, em relatório.
As expectativas do mercado para o PIB
O Itaú estima que o PIB do segundo trimestre tenha avançado 0,3% frente ao primeiro. Segundo o banco, a principal contribuição deve vir do setor de serviços, com destaque para aqueles prestados às famílias.
O IBGE aponta que o item registrou um avanço no crescimento, passando de 0,2% nos três primeiros meses do ano para 1,4% no segundo trimestre.
A instituição financeira também vê avanços no comércio, transportes e informação. A expectativa é de que o PIB industrial tenha registrado um pequeno avanço de 0,3%, com avanço em serviços industriais de utilidade pública (energia, água, telefonia) e na indústria extrativa.
O Bradesco também sinaliza para um ritmo moderado de desaceleração da atividade econômica. A instituição financeira avalia que o PIB no segundo trimestre tenha crescido 0,5% em relação ao primeiro, contando com vetores positivos vindos dos serviços e do consumo das famílias. A expectativa é de que os investimentos registrem queda, assim como aconteceu no primeiro trimestre.
A projeção para o crescimento do PIB realizada pela XP Investimentos também é de expansão de 0,5%. “Os resultados tendem a confirmar a desaceleração gradual da atividade econômica”, destaca a equipe de analistas.
O Rabobank projeta crescimento de apenas 0,1% em comparação ao primeiro trimestre. A avaliação é de que a safra recorde ainda trará algum alento, com segmentos da indústria e serviços ligados à agricultura mostrando robustez. “A safra foi estocada e ainda precisa ser totalmente exportada”, dizem, em relatório, os estrategistas Maurício Une e Renan Santos.
Os estrategistas também destacam que a eventual aprovação de reformas estruturais, como é o caso da tributária, que está em tramitação no Senado, não significa o fim da incerteza sobre a política econômica de curto prazo, já que esta ainda apresenta obstáculos aos investimentos e à economia em geral.
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