As empresas brasileiras estão lucrando menos e, por isso, investindo também cada vez menos. Um estudo recém-concluído ajuda a explicar, a partir dos resultados ruins das empresas, porque o investimento caiu tanto e foi o principal item responsável pelo desempenho fraco do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014. De acordo com a pesquisa realizada pelos economistas Carlos Antonio Rocca, diretor do Centro de Estudos do Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais e Lauro Modesto Santos Jr., houve uma reviravolta no desempenho das empresas não financeiras nos últimos quatro anos.
Indústrias, redes de comércio e companhias do setor de serviços e agropecuário lucraram menos. Sem lucro, as empresas pouparam menos. Elas ainda poderiam recorrer a empréstimos bancários para investir, caso vissem perspectiva de crescimento na economia brasileira. Mas sem poupança nem horizonte de expansão, elas travaram os investimentos.
Entre 2010 e 2013, a poupança e o investimento despencaram simultaneamente nas contas nacionais, que medem os principais números da economia. No 3º trimestre deste ano, o investimento recuou para o equivalente a 17,4% do PIB, muito abaixo do necessário para puxar o crescimento do país. Foi o pior nível alcançado num terceiro trimestre desde 2002. A poupança doméstica, incluindo recursos do governo, das famílias e das empresas, também desabou: era 17,5% do PIB em 2010 e recuou para 13,6% em 12 meses encerrados em março deste ano.
O estudo de Rocca e Santos Jr. mostra que a maior parte da queda na poupança doméstica entre 2010 e 2013 (de quatro pontos porcentuais) foi provocada pela retração da poupança das empresas não financeiras. Nesse período, as estimativas dos economistas mostram que a poupança das famílias ficou praticamente estável enquanto a poupança do setor público permaneceu negativa.
Derrocada
Para chegar a essa conclusão, os economistas se debruçaram sobre os resultados de 741 empresas, abertas e fechadas, entre 2010 e 2013, excluindo as empresas do Grupo X. E constataram que o lucro desse grupo de empresas a principal fonte de geração de poupança para financiar o investimento no período caiu 40,6%.
Sem Vale, Petrobras e Eletrobrás, a tendência de queda do lucro desse grupo de companhias se manteve, porém foi menos intensa. O recuo foi de 23%. Esse grupo de empresas responde por cerca de um terço da geração de riqueza medida pelo PIB.
A queda nos lucros foi generalizada e os dois únicos setores nos quais houve crescimento foram o comércio (43,6%) e a agropecuária (306,9%).