Se por um lado os eventos observados nas últimas semanas têm tirado o sono de investidores, eles não devem ter impacto na vida de pessoas alheias ao mercado de capitais. "Não há, por enquanto, qualquer evidência de que essa crise vai ter consequências para o lado real da economia", diz o professor José Luis Oreiro, do departamento de Economia da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Dessa forma, o crescimento dos países não corre riscos. Isso porque, até o momento, o problema é restrito ao mercado de capitais. "Nenhum banco chinês quebrou, não há fuga de capitais e nem pressão sobre moedas", diz o professor Breno Lemos, também da UFPR.
É, portanto, completamente diferente da crise asiática de 1997, que conjugou duas crises: financeira e cambial. Naquela ocasião, a Bovespa registrou queda de 40%. "Os bancos emprestavam no Ocidente para financiar investimentos imobiliários de alto risco na Coréia, o que gerou uma bolha nas ações no setor. Ela estourou e eles não tinham dinheiro para devolver", diz Oreiro. Taiwan também viu sua principal instituição financeira quebrada.
Com os bancos quebrados, diminuiu o estoque de moeda em circulação, esvaziaram-se as já baixas reservas internacionais e, aí sim, houve impacto no lado real da economia. Na Coréia, por exemplo, as reservas internacionais diminuíram de US$ 30 bilhões para US$ 20 bilhões. O Brasil perdeu cerca de US$ 10 bilhões, caindo para US$ 50 bilhões naquele ano.
Quando as reservas caem demais, a autoridade monetária do país se vê obrigada a defender a taxa de câmbio aumentando os juros, o que já é nocivo para a economia, diz Oreiro. Por outro lado, os bancos internacionais cobram dos locais o pagamento de empréstimos feitos anteriormente, e estes das empresas. Este fenômeno, conhecido como "evaporação de crédito", deixa as empresas sem capital de giro para financiar a produção. Cai a produção no país e o emprego.
Os fundamentos econômicos hoje, tanto nos emergentes asiáticos quanto no Brasil, são bastante distintos daquela época. "Hoje temos quase duas vezes o necessário para pagar a dívida externa de curto prazo, e esse é um dos piores indicadores entre os emergentes", diz Lemos.
O mesmo se pode dizer das condições do Brasil na década de 80, época do "crash" na economia latino-americana, que sucedeu duas crises internacionais do petróleo e a moratória decretada pelo México em 1982. Após o primeiro choque, em 1973, a economia mundial desacelerou, mas o Brasil decidiu manter o ritmo alto. Para isso, era preciso financiar o déficit da balança de pagamentos brasileira.
O Brasil e outros países latino-americanos, como México e Argentina, fizeram isso com empréstimos bancários em nações desenvolvidas, com taxas de juros mais baixas. "Em 79, no entanto, com o segundo choque do petróleo, a inflação nos Estados Unidos saltou para a casa dos dois dígitos, a taxa de juros foi parar na estratosfera e os empréstimos tornaram-se extremamente caros", diz Oreiro.
Em 1982 o México declarou a Moratória e os bancos suspenderam as linhas de crédito para países latino-americanos. O Brasil foi obrigado a desacelerar o crescimento e a inflação no país disparou. "É diferente do momento atual. Hoje os países têm acesso ao mercado de capitais."
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