Quando foi presidente do Banco Central da Argentina, entre 2004 e 2010, o economista Martín Redrado conseguiu impedir vários embargos das reservas da instituição, na época exigidos pelos credores que não aceitaram as ofertas do país nas operações de reestruturação da dívida. Hoje, Redrado, forte crítico do governo Cristina Kirchner, acredita que é possível um acordo com os chamados "fundos abutres", mas, para isso, "a soberba deve ser deixada de lado". Na opinião de Redrado, "o governo não tem a experiência necessária para administrar essa crise" e o ministro da Economia, Axel Kicillof, deveria consultar especialistas no assunto, os melhores da Argentina e do mundo, e "já estar em Nova York, negociando".
O risco de calote da Argentina é grande?
Os interesses convergem para que seja possível um acordo. Se não existir negligência das partes envolvidas, estou convencido de que será possível um acordo.
O senhor chegou a dizer que a Argentina, neste momento, lembra o filme Apertem os cintos, o piloto sumiu. O governo está perdido?
Estou convencido de que o governo não tem a experiência necessária para administrar essa crise. Houve muitas idas e vindas, foi o que vimos até agora.
Qual foi o principal erro do governo nessa disputa?
O governo atuou com arrogância e soberba, achou que podia vencer essa situação nos tribunais e realmente não apresentou um plano de contingência, que permitisse uma instância de negociação. Quando o caso estava no juizado de primeira instância, a própria presidente disse que o país não cumpriria uma sentença desfavorável. Isso ocorreu no fim de 2012.
Setores mais radicais do kirchnerismo estão levantando a bandeira "pátria ou abutres"...
Existe uma confusão no governo. Um setor parece querer negociar, e outro pretende "malvinizar" (em referência à questão das Ilhas Malvinas) essa situação. O governo ainda não tem um rumo claro.
Se o governo aceitar fazer um pagamento, mesmo que seja em bônus, isso poderia ativar uma cláusula que permita aos 93% que aceitaram as trocas de 2005 e 2010 exigirem um pagamento similar?
Não seria uma oferta voluntária, seria uma exigência da Justiça. Essa cláusula não deveria ser aplicada. Na minha opinião, deveria ser criado um espaço de negociação que inclua os credores reestruturados, porque eles poderiam sofrer uma perda. Este é um quebra-cabeças de quatro peças: o governo argentino, a Justiça de Nova York, os credores que aceitaram a reestruturação e os que a rejeitaram. Deve ser uma negociação entre quatro partes.
Ainda não podemos descartar um cenário de calote...
O que deve ficar claro é que este é um problema autoinflingido. Não existem condições objetivas para que a Argentina dê um calote. É um problema que pode ser resolvido, não estamos em situação similar à de 2001, podemos evitar os cenários críticos. Este é um problema que pode ser resolvido com bons negociadores, de forma rápida. Mas, em caso de calote, o que acontecerá é que teremos menos dólares, e isso acentuará a recessão de nossa economia.
Que conselho o senhor daria a Kicillof?
Que tenha uma resposta profissional, que consulte os melhores profissionais argentinos e estrangeiros. Kicillof já deveria estar em Nova York, negociando. O ministro deve deixar de falar pela tevê e sentar-se à mesa de negociações.
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