Beneficiado por produção e preços recordes no agronegócio, mas afetado pela persistente valorização do real, o Paraná encerrou o primeiro semestre com uma ambígua coleção de recordes em sua balança comercial. As marcas inéditas atingidas por produtos como soja, carnes e açúcar alçaram as exportações do estado ao maior patamar da história; por outro lado, as empresas paranaenses nunca trouxeram do exterior tantos produtos, de matérias-primas a mercadorias de alto valor agregado. No cômputo geral, as importações superaram as exportações em US$ 367 milhões, o pior saldo comercial já registrado em um primeiro semestre desde o início da série histórica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 1989.
Embora ainda haja meio ano pela frente, o déficit recorde acumulado de janeiro a junho pode ser determinante para os resultados da balança paranaense em 2011. Se não houver uma reversão da tendência observada nos últimos tempos, o estado fechará o ano com saldo negativo em suas transações internacionais pela primeira vez desde 2000. Isso só será evitado se, de junho a dezembro, o faturamento do Paraná com as vendas ao exterior for maior que o desembolso com as importações algo que, nesse período do ano, não ocorre desde 2007.
Sem gordura
O registro de déficits no segundo semestre tornou-se habitual em razão do forte aumento das importações, que nos últimos anos foram impulsionadas pela queda do dólar e pela expansão do consumo no Brasil. Mas, pelo menos até o ano passado, o saldo positivo acumulado nos seis primeiros meses época de escoamento da maior parte da safra agrícola do estado vinha sendo grande o suficiente para compensar o "rombo" da segunda metade do ano. Em 2010, por exemplo, o estado chegou ao fim de junho com um superávit acumulado de US$ 640 milhões, suficiente para compensar o déficit dos meses seguintes e fechar o ano no azul, com uma sobra de US$ 220 milhões. Desta vez, não há "gordura" para queimar.
Os números acumulados de janeiro a junho, período em que o Paraná vendeu ao exterior US$ 8,229 bilhões em mercadorias, deixam evidente o predomínio da agricultura e da agroindústria na atual pauta de exportações. Sete das dez maiores exportadoras do estado são empresas que comercializam grãos, carnes ou açúcar. E, entre os dez principais grupos de produtos exportados pelo Paraná, há seis ligados ao agronegócio.
Indústria tropeça
Enquanto os produtos básicos (sem qualquer transformação, como a soja em grão) ganham espaço na pauta paranaense, os manufaturados (industrializados de maior valor agregado) fraquejam. Esses produtos, que chegaram a responder por 60% das exportações paranaenses no primeiro semestre de 2006, agora têm fatia de apenas 36%; no mesmo intervalo, a participação dos básicos saltou de 29% para 49%.
Análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) referente à pauta brasileira, que enfrenta o mesmo fenômeno, afirma que "o ponto fundamental é que a primarização [aumento da fatia dos produtos básicos] vem ocorrendo não somente pela supervalorização das commodities, mas por um colapso da capacidade brasileira de colocar sua produção industrial em mercados externos". O Iedi atribui esse colapso à ausência de políticas industriais, de investimento em infraestrutura, de reforma tributária e também "ao fator decisivo que é o câmbio".
No Paraná, chama atenção o fraco desempenho da indústria automotiva e do setor de máquinas e equipamentos. As vendas de veículos e componentes caíram 9% em relação ao mesmo período de 2010, para US$ 749 milhões; considerando-se apenas os automóveis leves, as vendas despencaram 32%, para US$ 352 milhões, patamar semelhante ao registrado dez anos atrás. Os embarques de máquinas e equipamentos (gama que também inclui colheitadeiras, refrigeradores, motores diesel e outros) até melhoraram um pouco, somando R$ 473 milhões, mas continuam abaixo dos níveis de meados da década passada.
Importações
O mesmo câmbio que dificulta a entrada dos manufaturados brasileiros no exterior facilita a compra de produtos fabricados lá fora. E as montadoras, que vêm exportando menos, importam cada vez mais: Renault, Volkswagen, Volvo, Nissan e Case New Holland aparecem no ranking das dez maiores importadoras do estado. A líder dessa lista é a Petrobras, que compra petróleo da Nigéria para refiná-lo na Repar, em Araucária. Completam o rol Positivo Informática, que importa componentes de computadores; a multinacional de eletrodomésticos Electrolux; e duas empresas de fertilizantes (Bunge e Mosaic).
Parceiro
Transações com o Japão crescem apesar de tragédia
A devastação provocada pelo terremoto seguido de tsunami, em março, parece não ter afetado as transações comerciais do Paraná com o Japão. De janeiro a junho, as exportações paranaenses para aquele país somaram US$ 188 milhões, com forte alta de 41% sobre o mesmo período de 2010. E as importações, pelo Paraná, de produtos japoneses aumentaram 48%, para US$ 162 milhões.
As vendas de carne paranaense (principalmente de frango) ao Japão aumentaram 57% nos seis primeiros meses do ano, para US$ 130 milhões. Os embarques de soja subiram ainda mais (80%) e somaram US$ 23 milhões, ao passo que as exportações de preparações alimentícias essencialmente café solúvel aumentaram 10%, para US$ 16 milhões. Por outro lado, os japoneses reduziram em 39% as importações de máquinas e equipamentos fabricados no Paraná.
Importações
Em sentido oposto, o Paraná elevou em 56% as compras de máquinas e equipamentos fabricados no Japão neste ano. As importações de aparelhos e materiais elétricos cresceram 32% e as de instrumentos óticos, médicos e de fotografia, 61%. O fluxo de produção e envio de autopeças japonesas, que preocupava algumas empresas do polo automotivo paranaense, não acusou problemas: a entrada desses produtos no Paraná quase triplicou neste ano, somando US$ 19 milhões de janeiro a junho. (FJ)