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A agência de classificação de risco S&P Global Ratings decidiu não seguir o exemplo da concorrente Moody’s e apontou que não deve elevar a nota de crédito do Brasil no curto prazo. A sinalização segue em linha com a previsão de analistas de mercado e com a também concorrente Fitch Ratings, que vê uma dificuldade do governo em controlar os gastos públicos apesar do crescimento econômico.
O diretor e analista líder da S&P para o país, Manuel Orozco, afirmou que, embora o aquecimento da economia possa sugerir uma maior capacidade de estabilizar a dívida pública, esse cenário ainda não se concretiza.
“O crescimento para o Brasil deveria significar uma maior capacidade para estabilizar a dívida. Isso não está acontecendo agora”, explicou Orozco em entrevista ao jornal Valor Econômico na quinta (3).
A nota de crédito do Brasil pela S&P atualmente é de BB com perspectiva estável, igual à da Fitch. Já a Moody’s elevou o rating soberano do país para Ba1 com perspectiva positiva, colocando o Brasil a um degrau do chamado “grau de investimento”, que é uma espécie de selo de “bom pagador”.
Orozco reconhece que o Brasil tem apresentado surpresas pelo desempenho econômico, mas atribui isso a uma política fiscal expansionista. Em 2024, a expectativa de crescimento do país foi ajustada para 2,8%, acima da previsão anterior de 2%.
No entanto, boa parte desse crescimento é impulsionado pelo consumo, que tem sido alimentado por gastos públicos, aumento do salário mínimo e ajustes nos benefícios sociais. “Muito deste consumo está sendo impulsionado por uma política fiscal expansiva e um crescimento do gasto real”, disse o analista.
“Há um espaço limitado para manter essa política pró-cíclica. Já sinalizamos anteriormente que há efeito das reformas no PIB, mas que essa política de gastos dificulta os cortes de juros no futuro. O Brasil agora tem juros reais de curto e longo prazo bastante elevados, que devem dificultar um crescimento elevado no longo prazo”, disse expressando preocupação da atual política de gastos.
A S&P projeta uma desaceleração no crescimento do Brasil para cerca de 2% entre 2025 e 2027. Além disso, a agência alerta para a necessidade de ajustes nas regras fiscais do país, e que o governo terá que lidar com a desindexação e a vinculação das despesas para garantir que o novo arcabouço fiscal funcione.
Outro ponto de preocupação é a trajetória da dívida pública. A S&P não vê sinais de que a dívida brasileira entrará em uma rota de queda em breve. As projeções da agência apontam que a dívida bruta deve aumentar de 74% do PIB em 2023 para 76% neste ano, chegando a 83% até 2027.
Embora a dívida do país seja majoritariamente emitida em moeda local, o que é um aspecto positivo para Orozco, o custo elevado e o prazo médio curto são fatores que pesam contra.
“É um serviço muito caro da dívida, com juros no patamar de 15% das receitas do governo geral”, afirmou acrescentando que a dívida tem um prazo médio de vencimento relativamente curto, o que obriga o governo a manter reservas líquidas elevadas.