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Mercado editorial

Será o fim das editoras ou o início de uma nova era de ouro para os livros?

Uma pilha de livros e um Kindle DX, da livraria eletrônica americana Amazon: em um ano, 630 mil e-books vendidos | Divulgação / Amazon
Uma pilha de livros e um Kindle DX, da livraria eletrônica americana Amazon: em um ano, 630 mil e-books vendidos (Foto: Divulgação / Amazon)

São Paulo - O livro digital é como o gás encanado. O produto é idêntico ao que chega pelo botijão – mas você só precisa abrir o registro para usá-lo. A comparação é de Zeca Fon­seca, autor que publicou eletronicamente seu primeiro livro, O Adorador, e só depois recorreu ao papel para divulgar sua obra. Para ele, os e-books vieram para difundir todo o conhecimento criado pelas pessoas, mas de forma mais rápida. Os livros eletrônicos estão ganhando espaço em todo o mundo. No Brasil, sua força é menor devido aos preços altos resultantes dos impostos de importação. Mesmo assim, eles estão entre os principais assuntos da Bienal do Livro de São Paulo, que vai até o pró­­ximo domingo.

Só nos EUA, o mercado editorial eletrônico mais que duplica a cada ano. A Amazon, por exemplo, já experimenta os efeitos dessa migração: em um ano, a venda dos mais de 630 mil títulos de e-books representaram um crescimento de 200%, superando a de livros de papel.

Pessimistas preveem o fim das editoras, mas a maioria dos especialistas acha que esse é o momento certo para elas se reinventarem. O americano Mark Coker aposta em um modelo de publicação di­­gital baseado na autonomia dos autores e na interatividade entre leitores. Em 2009, criou a plataforma Smashwords, que hoje já conta com mais de 6.500 autores profissionais e centenas de independentes.

Funciona assim: o autor formata seu livro de acordo com um manual disponível no site e sobe o arquivo de Word no Smash­words. O site converte-o para o formato certo dos livros digitais e disponibiliza nas maiores lojas de e-books, como Kindle Store, iBooks, Sony Reader Store e Barnes & Noble. Quem determina o preço é o próprio autor, que fica com 85% da receita gerada pelas vendas (menos as taxas cobradas pelo serviço de pagamento online), contra o máximo de 25% pa­­gos pelas grandes editoras americanas.

Esse é um modelo em que autores independentes têm mais facilidade para lançar seus livros no mercado, sem que precisem passar pelo crivo das editoras. Coker diz que não considera justo um editor julgar a obra de alguém e decidir quanto ela vale levando em conta seu potencial de venda. Para ele, o autor deve ter o direito de decidir como seu livro será oferecido aos leitores. "Todos têm o direito de publicar um livro, de fazer parte da literatura", diz.

O Smashwords pretende chegar em breve ao Brasil. Com uma parceria fechada com a editora Singular Digital, todo o conteúdo lá disponível será vendido nos canais brasileiros, e as obras de autores nacionais serão comercializadas nas lojas estrangeiras que abastecem os e-readers de todo o mundo. Até o fim do ano, diz Newton Neto, diretor-executivo da Singular, o Smashwords deve ser trazido completamente traduzido para o país.

Outra aposta da Singular é o livro sob demanda, que permite a impressão rentável de pequenas tiragens. Esse modelo provou ser bem sucedido com a Amazon, que já tem mais de 85% de seus livros vendidos dessa forma. Para Neto, grandes tiragens não fazem mais sentido para a maioria dos livros, pois geram um gasto desnecessário de impressão e armazenamento - além do risco de encalhe. Além disso, dificultam que os leitores encontrem essas obras quando suas edições estão esgotadas, mas ainda não há demanda suficiente para que se imprima outra. Segundo ele, a expansão do mercado de livros digitais nos Estados Unidos foi precedida, do ponto de vista das editoras, pelo modelo de impressão sob demanda, que tornou a experiência de compra mais proveitosa para o leitor e capitalizou os arquivos digitalizados das obras.

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