A queda nos preços internacionais de commodities como soja, milho, trigo e petróleo promete dar uma trégua na inflação, pelo menos até o fim do ano. O consumidor deve sentir no bolso um ritmo menos intenso de reajustes. A redução da demanda nos Estados Unidos, na Europa e no Japão e a saída de alguns fundos de investimento desses mercados fizeram despencar os preços de produtos que vinham incendiando a inflação nos últimos meses.
A soja fechou a sexta-feira cotada a R$ 444 por tonelada na Bolsa de Chicago, com queda de 20% sobre o pico registrado em julho. Depois de atingir a cotação histórica de US$ 275,3 em junho, o milho encerrou a semana valendo US$ 216 por tonelada. O trigo, que chegou a US$ 420,9 em março, encerrou o pregão a US$ 311. Com o barril em US$ 113,77, o petróleo acumula uma desvalorização de 21% desde o recorde alcançado no mês passado.
Embora não tenha desaparecido, o "dragão da inflação" deu sinais, nas últimas semanas, de que resolveu de que resolveu tirar um cochilo. Dois indicadores divulgados recentemente reforçam essa tendência. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que serve de base para os regimes de metas de inflação, encerrou julho em 0,53%, ante 0,74% no mês anterior.
A desaceleração foi provocada pela perda de fôlego dos preços dos alimentos, cujos preços subiram 1,05% em julho, a metade da variação de junho (2,11%). A primeira prévia deste mês do Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) apresentou deflação de 0,01%, depois de ter subido 1,55% em julho. "A previsão é que essa desaceleração seja sentida de maneira mais expressiva em agosto e a partir de setembro o índice caminhe para estabilidade", prevê Fabio Romão, da LCA Consultores. Em função da desaceleração dos preços internacionais das commodities, a LCA estima para agosto uma inflação medida pelo IPCA geral de 0,40% e uma variação de 0,5% no setor de alimentos e bebidas.
De acordo com a última pesquisa semanal Focus do Banco Central, divulgada na semana passada, analistas do mercado financeiro já prevêem o retorno do IPCA (6,45%) para dentro do intervalo previsto pela meta de inflação, que vai até 6,5%. Alguns economistas, no entanto, ainda esperam que o índice ultrapasse o teto previsto pelo governo. "A nossa previsão é de uma inflação de 6,7% esse ano e de 5% para 2009", diz Luiz Fernando Azevedo, da consultoria Rosenberg & Associados.
Segundo ele, a demanda aquecida ainda deve servir de barreira para uma queda maior de alguns preços. E o consumidor não deve sentir imediatamente os efeitos da desaceleração da inflação. "Primeiro porque a soja e o milho, por exemplo, têm um peso pequeno na composição do índice e, segundo, porque o primeiro efeito se dá no atacado. O reflexo no varejo é mais demorado", diz Azevedo.
Apesar do alívio, os preços das commodities podem voltar a subir em 2009, no embalo da redução dos estoques mundiais e da retomada do consumo, segundo Fernando Muraro, analista da AgRural. "O tigre está ferido, mas não está morto. Poderemos ter picos de preços próximos do que vimos neste ano e voltar a registrar pressões inflacionárias." Segundo ele, o grau de recuperação das cotações vai depender da intensidade da recessão nos Estados Unidos, da eventual redução das áreas de plantio pelos produtores e da demanda mundial. Embora as cotações mundiais tenham recuado, o cenário de escassez de alimentos permanece. "Já sabemos que, com os tetos registrados neste ano, há uma retração do consumo. O desafio será encontrar um equilíbrio de mercado", afirma.