O socorro financeiro anunciado até agora para a indústria automobilística amenizar os efeitos da crise global já soma US$ 54 bilhões, a maior parte em subsídios oferecidos pelos governos às empresas de 14 dos principais países produtores. O montante equivale a 36 vezes o valor atual de mercado da General Motors dos Estados Unidos ou de um Banco Goldman Sachs inteiro.

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As condições para liberar os benefícios variam segundo as exigências dos governos locais. Nos EUA, a GM e a Chrysler, que até agora ficaram com a maior fatia dos US$ 23,4 bilhões liberados para o setor automotivo naquele país, são obrigadas a promover severo plano de reestruturação que inclui fechamento de fábricas e milhares de demissões.

Na Europa, a contrapartida é o aumento da produção de carros pequenos e também menos poluentes. No Brasil, o compromisso com manutenção de empregos em troca de redução de impostos é apenas um "acordo de cavalheiros", segundo definiu o Ministério da Fazenda.

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Já na Rússia, os postos de trabalho estão garantidos, mas a principal beneficiada da ajuda governamental, a Avtovaz, uma das montadoras menos eficientes do mundo, não tem qualquer cobrança para melhorar seus veículos. Há quatro décadas a empresa produz a mesma versão do modelo Lada. Sozinha, vai embolsar US$ 3,5 bilhões liberados pelo governo russo.

Os números não incluem o recente pacote de estímulos anunciado pela cúpula do G-20 (grupo das maiores economias do mundo), de US$ 1,1 trilhão até o fim de 2010 para irrigar a economia mundial, pois não se sabe a parcela que caberá ao setor automobilístico.

Para Hans-Rudolf Roehm, executivo da consultoria Deloitte na Alemanha, os estímulos dos governos ajudam, mas o setor automotivo só verá uma retomada efetiva "quando os consumidores voltarem às lojas para comprar carros". Em recente visita ao Brasil, ele afirmou que o mercado mundial este ano vai consumir quase 9 milhões de veículos a menos que em 2008.

Roehm ressaltou que os estímulos às montadoras, apesar de significativos, não são o foco principal dos pacotes de ajuda lançados mundo afora; o foco é o setor financeiro. Nos EUA, o socorro total anticrise passa de US$ 700 bilhões.

Mais incentivos - O presidente mundial da consultoria americana Global Insight, Joseph Kasputys, calcula que cerca de US$ 40 bilhões do montante destinado às montadoras são subsídios diretos oferecidos pelos governos. A parte restante deve ser de programas de estímulo às vendas, como redução de impostos ou de oferta de bônus, casos do Brasil e da Alemanha, respectivamente.

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Kasputys acha que o governo brasileiro "não está fazendo o suficiente" para a indústria automobilística, vista por ele como um dos setores chave da economia local. O estímulo principal adotado no País foi a redução temporária do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e linhas especiais de crédito bancário.

"Seria bom se o governo brasileiro adotasse ações de incentivo à troca de carros velhos por carros mais novos, como estão fazendo a Alemanha e a França", sugeriu o economista Kasputys que visitou o País no mês passado. O governo alemão banca um bônus de 2,5 mil (R$ 7,3 mil) para quem tem um carro com mais de nove anos na troca por um modelo novo. Em março, as vendas de carros na Alemanha aumentaram 29% em relação ao mesmo mês de 2008. No Brasil, cresceram 17%.

Carlos Reis, presidente da Carcon Automotive, consultoria com sede no ABC paulista, compartilha dessa opinião. "O IPI é um pequeno suporte", diz ele, que, num cenário considerado otimista, prevê queda de 12% na produção brasileira de veículos ainda este ano e, no pessimista, queda de 16%.

Há quem defenda que as montadoras brasileiras "façam um lobby" no governo para manter o IPI reduzido pelo menos até o fim de 2009, como é o caso do responsável pela região da América Latina na Global Insight, Guido Vildozo. Segundo ele, o corte do imposto, de 7% para zero para carros 1.0 e de 50% nas alíquotas dos modelos acima de 1.0 até 2.0 "representa um custo trimestral de R$ 1,5 bilhão, o que não é caro, e ajuda a manter empregos."

O presidente da Volkswagen do Brasil, Thomas Schmall, vê o incentivo de forma diferente e com mais cautela sobre os efeitos futuros da medida. "Uma nova prorrogação pode não ajudar em nada", comenta.

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Para Schmall, a medida vai perdendo efeito ao longo do tempo. Ele acredita que seria mais eficiente a retomada do financiamentos para que voltassem aos níveis de antes da crise, não só em taxas, mas principalmente em prazos e facilidades na liberação de crédito.

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